VÍDEO: Andorinhas ‘perdidas’ após poda de árvores divide opiniões em cidade de SC

Um vídeo que mostra um bando de andorinhas voando desorientadas sobre a Praça Aquiles Dagnaluzo, em Capinzal, no Meio-Oeste de Santa Catarina, viralizou nas redes sociais e vem dividindo opiniões e causando polêmica.

andorinhas perdidas

Andorinhas voam ‘perdidas’ após poda de árvores. – Foto: Marcelo Roberto Prando/ND

As imagens, registradas pelo empresário Marcelo Roberto Prando na última quarta-feira (17), mostram a ausência das árvores que serviam como dormitório para as aves. A poda dos ipês-roxos foi feita pela prefeitura.

Segundo o empresário, as andorinhas pernoitavam diariamente nos ipês-roxos da praça, que também são símbolos do município. “Infelizmente, elas vieram e não tinham mais as árvores. As imagens falam por si só, mostrando a tristeza e a crueldade da poda que foi feita”, lamentou o empresário.

De acordo com ele, as aves costumavam permanecer na região até o fim do verão, quando migravam para outras localidades.

O que diz a prefeitura sobre a poda das árvores?

A Prefeitura Municipal de Capinzal esclareceu, por meio de nota, que a poda das árvores da Praça Achilles D’Agnoluzzo foi um pedido dos moradores, comerciantes e faz parte de um planejamento para minimizar os danos causados pela grande concentração de andorinhas no local.

“A presença excessiva dessas aves tem gerado diversas reclamações e preocupações devido ao mau cheiro, sujeira acumulada e o risco de doenças”, finaliza a nota.

Impacto ambiental

A bióloga Eliara Solange Müller explica que as árvores são fundamentais para as andorinhas, pois fornecem abrigo, proteção contra chuvas e calor, além de servirem como ponto de descanso durante a migração.

As aves, que se alimentam de insetos como mosquitos, borboletas e mariposas, agora precisarão buscar outro local para pernoitar.

Segundo a bióloga, a retirada das árvores pode desorientá-las e prejudicar sua capacidade migratória, colocando todo o bando em risco. Além disso, elas podem acabar se instalando em locais inadequados, como hospitais e estabelecimentos alimentícios, causando transtornos ainda maiores.

Outro ponto levantado pela especialista é o impacto ambiental da poda, que pode levar à perda de biodiversidade e ao aumento das temperaturas urbanas devido à redução da cobertura vegetal.

“As árvores ajudam a manter o equilíbrio do ecossistema, oferecendo abrigo e alimento para várias espécies, além de melhorar a qualidade do ar”, ressaltou.


O empresário mostrou as andorinhas voando perdidas após a poda das árvores. – Vídeo: Marcelo Roberto Prando/ND

Andorinhas são aves migratórias

A bióloga ressalta que as andorinhas são aves migratórias e os indivíduos que utilizam o sul da América do Sul, ou melhor dizendo o Oeste de SC, realizam migração sazonal, ou seja, no outono/inverno elas buscam alimento no norte e nordeste brasileiro e países vizinhos. Isso porque neste período a população de insetos é escassa na região.

“Nem todos os indivíduos de uma população migram, os que não concluíram o ciclo de muda das penas, os que não conseguiram atingir um peso ideal para a migração, os com infestação excessiva de parasitas, não realizam a migração”, comentou.

Em agosto/setembro elas retornam para reproduzir, neste momento ficam espalhadas, não se reúnem, porque cada casal está reproduzindo. Já no fim de dezembro começam a se reunir em bandos, usar dormitórios coletivos e se preparar para a próxima migração.

O momento da migração será definido pela temperatura, os primeiros frios mais intensos serão o indicativo para migrar.

“Vale ainda ressaltar que muito antes de Capinzal existir, a rota migratória delas já estava estabelecida. Elas fazem migração e ocorrem no oeste há muito mais tempo que nossas cidades foram construídas. É importante respeitar e valorizar os elementos da natureza e temos um desafio, que é aprender a conviver”.

Empresário mostra praça após poda das árvores. – Vídeo: Marcelo Roberto Prando/ND

Espécies de andorinhas no Brasil

A bióloga explica que no Brasil ocorrem 18 espécies de andorinhas, dessas 13 ocorrem no sul do Brasil. Elas são diferentes, mas algumas vezes a diferença é sutil, sendo necessário observar com uso de binóculo para ver os detalhes.

“Elas têm necessidades específicas, usam habitats diferentes, tem comportamentos diferentes. Nem todas se agrupam tem comportamento gregário”, cita.

Eliara diz que para identificar a espécie das andorinhas de Capinzal seria necessária uma avaliação detalhada dos indivíduos. Há espécies de andorinhas muito similares, mas considerando o comportamento, eu acredito que seja andorinha-grande (Progne chalybea).

“A andorinha-grande é uma das maiores andorinhas que ocorre no Brasil, mede entre 16 e 22 centímetros de comprimento e pesa entre 33 e 50 gramas. Tem asas longas, pontiagudas e pretas nas extremidades, a cauda é bifurcada, o bico é curto, chato, triangular e preto”.

Ela destaca que há pequenas diferenças entre machos, fêmeas e juvenis. Os machos adultos têm partes superiores azul-aço – um azul metálico brilhante, mas com pouca luminosidade, parece preto, são cinza da garganta ao peito e têm barriga branca. As fêmeas são semelhantes, mas geralmente mais claras na coloração. Os juvenis são opacos com partes superiores cinza-fuliginosas.

Empresário mostra praça após poda das árvores. – Vídeo: Marcelo Roberto Prando/ND

Alternativas sustentáveis

A bióloga sugere, após a poda das árvores que serviam de dormitório coletivo para as andorinhas, deixar que as aves se organizem.

Após elas terem selecionado um novo local para pernoitar, a bióloga cita que o correto é não interferir neste local. Se as fezes e o odor causarem algum prejuízo para a convivência com o ser humano, ela cita que a prefeitura pode identificar o local para que a população se sensibilize e conheça a espécie.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.