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Gestores da Mata de Santa Genebra foram o público da explanação de Maurício Solera, realizada no último dia 10
Crédito: Divulgação
O aluno Maurício Solera, do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Infraestrutura Urbana da PUC-Campinas apresentou, no último dia 10 de fevereiro, aos profissionais da área técnica e ao presidente da Fundação José Pedro de Oliveira, Rogério Menezes, na sede da Entidade, localizada no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, as conclusões de sua dissertação, obtidas através de uma pesquisa realizada, em parte, na Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Mata de Santa Genebra, durante o período de um ano, cujo tema é “Contribuições da ARIE Mata de Santa Genebra para Serviços Ecossistêmicos de Regulação Climática”.
Sob a orientação da Profa. Dra. Regina Márcia Longo, Maurício já havia realizado anteriormente, no último dia 27 de janeiro, na própria PUC-Campinas, a defesa de sua pesquisa frente a uma banca julgadora com o intuito de concluir o seu mestrado. O aluno Gustavo Campane, do curso de Ciências Biológicas, também orientando da professora Regina, mas de Iniciação Científica, o auxiliou durante o processo de realização do trabalho.
Sobre a pesquisa
A coleta de dados para a realização da dissertação foi realizada com sensores para a medição da temperatura e umidade do ar e para a medição da temperatura e umidade do solo em três locais diferentes: dois na ARIE Mata de Santa Genebra (sendo um de cada no interior da mata e outro de cada em sua borda) e um de cada em uma área mais urbanizada, localizada no Campus I da PUC-Campinas. Os sensores permaneceram em funcionamento, tanto na estação chuvosa (de outubro a março) quanto na seca (de abril a setembro), fazendo a leitura dos parâmetros a cada trinta minutos. De todo esse tempo, foram selecionados quinze dias para a análise dos dados de ambas as estações.
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“Uma dificuldade encontrada foi a de que nós gostaríamos de instalar os sensores em uma área bem mais urbanizada, como, por exemplo, no centro da cidade (de Campinas), porém, como são equipamentos que não são baratos, nós ficamos restritos aos locais que escolhemos. Mesmo assim, os resultados foram bastante expressivos”, explica Maurício.
Dados coletados
De acordo com o pesquisador, a Mata de Santa Genebra é um fragmento florestal urbano bastante importante para a regulação climática local. Ele esclarece que a Mata, além de abrigar uma grande biodiversidade, desempenha um papel significativo na moderação de temperaturas extremas e na manutenção da umidade relativa do ar.
“Os dados coletados comprovam que a Mata atua como um moderador térmico, uma vez que o interior dela reduz em até 7,40°C a temperatura máxima quando comparada com a área urbana. Em comparação com a sua borda, que podemos considerar como uma mata já degradada, essa redução também é bem expressiva, ficando em 4,61°C na estação chuvosa. Na estação seca, a diferença entre o interior e a área urbana chegou a 5,95°C e entre a borda e a área urbana a 3,38°C, ou seja, a temperatura na área urbana chega a ser 26% mais elevada do que aquela constatada na Mata”, comenta o recém-formado mestre.
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A área urbana também obteve as maiores temperaturas e os menores índices de umidade relativas do ar.
O pesquisador explica que “para medirmos a umidade relativa do ar, nós nos utilizamos das porcentagens mínimas, uma vez que, abaixo de níveis ideais (em torno de 40%), as pessoas podem sofrer de uma série de riscos à saúde e quando comparamos as mínimas na estação chuvosa entre o interior da Mata e a área urbana, a umidade neste último local chega a ser 28,62% mais baixa e entre a borda da Mata e a área urbana, a umidade nesta última chega a ser 15,79% mais baixa. No caso da estação seca, a diferença entre o interior da Mata e a área urbana é 15,34% menor na última, ou seja, a área urbana obteve as maiores temperaturas e as menores umidades relativas do ar”.
Segundo Maurício, tudo o que foi coletado mostra que, além do controle da regulação climática, as áreas verdes melhoram a qualidade de vida da população em geral e que ter conhecimento disso é vital para a formulação de políticas públicas que foquem na preservação e reflorestamento delas.
Apoio e apresentação
Toda a pesquisa foi desenvolvida a partir do apoio financeiro obtido a partir da aquisição, por parte de Maurício, de uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e de outra da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de São Paulo (FAPESP). A Fundação José Pedro de Oliveira e a PUC-Campinas forneceram todo o suporte logístico e de infraestrutura.
Sobre a apresentação, o pesquisador comenta que esta transcorreu de maneira bastante tranquila e que o presidente da Fundação José Pedro de Oliveira, Rogério Menezes; os biólogos do Departamento Técnico-Científico da Instituição, Cristiano Krepsky e Thomaz Barrela; e os demais gestores ficaram “bastante empolgados com os resultados obtidos, uma vez que estes mostraram a importância que a Mata de Santa Genebra tem para a população de Campinas. Também foi sugerido a eles uma proposta futura para continuar as leituras dos dados, junto a um estudo referente ao sequestro de dióxido de carbono (CO₂)”.
Ele continua dizendo ter saído bem satisfeito, tanto da defesa de sua dissertação quanto da apresentação realizada na Fundação e que “exibir os resultados obtidos foi algo bem gratificante, uma vez que estudos como esse reforçam a importância da regulação climática pelos ecossistemas, como as florestas, por exemplo, o que nos fornece, como eu já disse, evidências concretas para o embasamento das tomadas de decisões governamentais sobre o meio ambiente e a conservação e recuperação de áreas que possam de alguma forma contribuir para a mitigação das ondas de calor”.
“Hoje, a crise climática já impacta milhões de pessoas. Vide as inundações ocorridas no Rio Grande do Sul no ano passado, onde, praticamente, o estado todo foi alagado. É por isso que eu realmente acredito que trabalhos como este oferecem ferramentas para podermos repensar o nosso relacionamento com a natureza, o que é essencial para que possamos garantir recursos para as gerações futuras”, encerra Maurício.