
Apesar de enfrentarem uma série de dificuldades, mulheres têm conquistado seu lugar no mundo dos negócios. O lugar da Elisângela Feitosa é na sua fábrica de peças automotivas
Arquivo pessoal
Embora o empreendedorismo feminino venha crescendo e as mulheres estejam presentes nos diferentes setores da economia do país – majoritariamente nas áreas de serviços e comércio –, ainda há desafios que precisam ser superados.
A Pesquisa Especial do Sebrae de 2023 e a Enciclopédia do Empreendedorismo Feminino 2024 mostram que, apesar do público feminino ser mais escolarizado, seus negócios têm menos faturamento, são menos inovadores, têm pouca diversificação e menores lucros. Hoje, são 10,4 milhões donas de negócio no Brasil.
As mulheres também enfrentam mais dificuldades para conseguirem crédito e, quando conseguem, pagam taxas mais altas, mesmo sendo mais adimplentes. Os estudos do Sebrae Nacional realizados com base em dados do Banco Central mostram que os donos de pequenos negócios pagam uma taxa média de 36,8% ao ano, enquanto as mulheres pagam 40,6%.
O programa de crédito Acredita Delas, iniciativa do Sebrae em parceria com o governo federal, vai conceder aval de 100% para as operações de crédito das empresas lideradas por empreendedoras. Com isso, o Sebrae espera que as mulheres se motivem a obter os incentivos necessários para profissionalizar e alavancar seus negócios. Queremos garantir que nenhuma ideia deixe de virar realidade por causa de recursos financeiros. Estamos usando nosso fundo para garantir até 100% nos empréstimos para pequenos negócios liderados por mulheres”, pontua a Diretora Financeira de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, Margareth Coelho.
A iniciativa vai ajudar empresárias como Elisângela Colodino Feitosa, dona da JJ Borrachas, uma fábrica de peças automotivas na linha de fixação, como buchas e amortecedores, localizada em Abadia de Goiás (GO). Essa empresária enfrentou o preconceito de um setor que é liderado por homens – 24% das mulheres empreendedoras já foram vítimas de preconceito de gênero nos negócios. “A primeira coisa que precisei fazer para superar essa dificuldade foi mostrar o quanto eu conhecia o mercado em que eu atuo”, lembra ela. “Lugar de mulher é onde ela se permite chegar”, continua.
Nem mesmo os clientes acreditavam que podiam confiar na liderança dela. “O que me manteve no mercado foi dominar o assunto. Fui, aos poucos, criando credibilidade com os clientes, sempre adotando uma postura muito séria e ética. Hoje, quando alguém tem alguma dúvida sobre peças, máquinas, ligam pra Elisângela aqui”, brinca.
Brincadeiras à parte, a pesquisa mais recente de empreendedorismo no Brasil realizada pelo Sebrae mostra que a taxa de mulheres com negócios já estabelecidos e que seguem abertos por mais de três anos e meio teve um crescimento de 18%. Renata Malheiros, especialista em Empreendedorismo Feminino da instituição, explica que o número é sinal da resiliência feminina.
“Ainda existem desafios culturais em função do tipo de criação de mulheres e homens. As crenças influenciam nossas escolhas e comportamentos quando adultos. O real desafio do empreendedorismo feminino é a nossa própria cultura. Veja, só em 1962, com o Estatuto da Mulher, as mulheres passaram a abrir uma empresa sem precisar pedir autorização do marido. Isso foi há pouco tempo”, sinaliza Renata.
Geórgia Nunes, gerente de empreendedorismo do Sebrae Nacional, destaca que os principais desafios relatados pelas empresárias se referem à sobrecarga de trabalhos domésticos, que não as deixam terem tempo para se dedicarem às suas empresas. “Apesar de o dia ter 24 horas para todo mundo, as tarefas de cuidado com as crianças, com os idosos, com os doentes, com toda a família e com a casa, culturalmente acabam recaindo sobre os ombros das mulheres”, diz a executiva.
A decisão da Elisângela ao empreender e tocar o negócio partiu do parto prematuro do segundo filho. Foram dois meses na UTI, tempo suficiente para perceber que precisava de flexibilidade no trabalho para poder dedicar mais tempo ao recém-nascido e ao mais velho, autista não verbal. Ela então pediu demissão da empresa em que atuava para investir numa empresa que, embora quase falida, tinha potencial para crescer.
A JJ Borrachas contou com todos os esforços da empresária, que renegociou dívidas com fornecedores e viu, aos poucos, o negócio prosperar.
Aliás o Sebrae, como ela costuma dizer, “foi o verdadeiro divisor de águas para sua empresa”. Mesmo sem dinheiro para investir na feira Expo Peças de 2023, a maior feira de negócios, tecnologias e peças automotivas do Centro-Oeste, sediada em Goiânia (GO), ela conseguiu um estande, graças ao patrocínio do Sebrae patrocinou. O resultado? Excelentes negócios e networking.
“Logo depois da feira eu participei do Prêmio Mulheres de Negócios. Ganhei a etapa estadual e depois a regional. Fiquei em segundo lugar do prêmio nacional de 2023”, comemora.
Elisângela também participou do Sebrae Delas, projeto em que são contempladas diversas ações para incentivar, apoiar e fortalecer a cultura empreendedora entre as mulheres. Ela afirma que o programa ampliou sua visão de negócio. “O Sebrae eleva nossa autoestima profissional, nos reconhece. Eu vejo muitas trabalhando, se dedicando, sendo super capacitadas, mas ficando pelo caminho”, lamenta.
Hoje, 60% dos funcionários da JJ Borrachas são mulheres. Elas, junto com toda a equipe, participam de algumas iniciativas do Sebrae e de treinamentos. O primeiro deles é dado pela própria Elisângela. “Quero que minhas funcionárias entendam que mulher é perfeitamente capaz de trabalhar com máquinas. Lembro que nós temos menos força física do que eles, então temos que usar mais nossa inteligência. Procuro sempre incentivar e mostrar que elas podem fazer tudo que desejarem”.
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O lugar da Nathália Alves é no mundo da fotografia e do marketing digital.
Arquivo pessoal
Quem também atua em um setor majoritariamente masculino é a fotógrafa Nathália Millen Guedes Alves, de Brasília (DF). O negócio, antes voltado para registros de eventos, como casamentos, se expandiu em plena pandemia da Covid-19. A empresária percebeu que muitas mulheres, como ela, atuavam no digital, mas precisavam de uma presença mais robusta e estratégica. “Eu auxiliei muita gente de forma remota, dando consultoria e mentoria sobre o que elas poderiam fazer naquele momento de isolamento. Então, enquanto outros negócios fecharam, o meu alavancou”, conta Nathália.
A empresa Pra Elas Marketing oferece produção de conteúdo, fotografia, vídeo, gestão tráfego e desenvolvimento de sites. A empreendedora também dá cursos e palestras voltadas para o marketing. Hoje, quatro colaboradoras contribuem para o negócio.
Se Nathália teve dificuldades para ser ouvida? Segundo a própria, principalmente no início. Ela afirma ter sido silenciada e percebe que ainda há muitas mulheres batalhando para criar seu próprio espaço. “Quando eu trabalhava em um ambiente mais corporativo e fazia a cobertura de eventos, a maior parte dos profissionais eram homens, desde equipe técnica de som e imagem até fotografia. Se havia reuniões, ninguém me escutava. Foi desafiador, mexeu com minha autoestima. Achava que tinha a ver com o meu trabalho e minha entrega, e não é isso”.
Talvez por isso Nathália evite trabalhar em grupos menores e com mulheres. Não é à toa que gostou tanto de participar do Sebrae Delas, onde fez networking e contou com outras empreendedoras que, como ela, tinham um mesmo objetivo: unir os saberes à força feminina e direcioná-los para os negócios. “Desde que comecei a aplicar o que aprendi no Sebrae, muita coisa mudou. A informação te leva longe. É como um trampolim, ele te impulsiona pra cima. O Sebrae tem oficinas, oferece eventos gratuitos, abre muitas portas”.
Para a fotógrafa, lugar de mulher é na liderança. “Acredito que as grandes cadeiras precisam ser ocupadas por mulheres. O público feminino tem um olhar mais empático. Por mais que a gente tente explicar nossas necessidades para um homem, ele não entende por que não conseguem se colocar no nosso lugar”.
O Sebrae deseja que empreendedoras como Elisângela e Nathália alcancem a liberdade financeira. Por isso, criou o Invista em você, uma das mais de 500 soluções voltadas para estimular que as mulheres sejam donas dos seus próprios negócios.
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O Sebrae apoia milhares de mulheres a mudar as histórias de suas vidas por meio do empreendedorismo.
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