
Por e-mails, Monique fingiu ser uma personagem, batizada de Jéssica Ferrer, e influenciou em decisões pessoais e comerciais do fundador da Embelleze durante 11 anos, entre 2012 e 2023. Itamar Serpa e Monique Elias juntos em foto; investigação mostrou histórias de manipulação e desvio de mais de R$ 122 milhões
Reprodução/TV Globo
A Polícia Civil do Rio descobriu que, por um período de 11 anos, entre 2012 e 2023, a influenciadora Monique Elias contou com a ajuda de comparsas para manipular o empresário fundador da Embelleze, Itamar Serpa Fernandes.
Segundo as investigações da polícia, ela recebeu mais de R$ 74 milhões em cotas da empresa do ex-marido, além de um apartamento na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, e uma fazenda em Valença, no Sul Fluminense. O valor total desviado foi de mais de R$ 122 milhões.
Por meio de e-mails, Monique fingiu ser uma personagem, batizada de Jéssica Ferrer, e influenciou em decisões pessoais e comerciais do fundador da empresa. O caso foi revelado pelo Fantástico no domingo (16) (veja vídeo abaixo).
Depois das mudanças no testamento e decisões de Itamar motivadas pelas conversas com Jéssica, Monique recebeu R$ 74,5 milhões em cotas da empresa. Foram feitas ainda duas apólices de seguro de vida em favor dela, no valor de R$ 28 milhões.
Um apartamento e uma fazenda, no Rio de Janeiro e em Valença, no Sul Fluminense, foram transferidos ou adquiridos em favor de Monique e dos comparsas por R$ 12,8 milhões, segundo as investigações.
A conclusão foi da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) da Polícia Civil do Rio, que a indiciou, juntamente com o filho e o ex-amante, por estelionato, furto mediante fraude e por associação criminosa. Ela também é investigada por lavagem de dinheiro.
O g1 preparou uma reportagem mostrando os principais momentos citados nas investigações.
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2012-2013
Em 2012, começam os e-mails trocados entre Jéssica Ferrer e Itamar. Segundo as investigações, Monique se aproveitou da personagem para minar as relações entre Itamar e pessoas próximas, como a esposa e os filhos.
Itamar já estava separado de sua esposa, Josefina, há anos. No entanto, segundo a polícia, a formalização do divórcio só veio em 2013, após a pressão que Jéssica Ferrer exerceu por mensagens.
Depois disso, Monique se casou com Itamar e ampliou o domínio emocional e financeiro sobre ele, segundo as investigações da Draco.
2015-2019
A partir desse ano, Monique passou a sugerir, por meio da personagem de Jéssica, mudanças estratégicas no comando da Embelleze, com o objetivo de ser favorecida financeiramente. Seu filho, João Carlos, também foi beneficiado.
Ela passou a direcionar seus ataques a Jomar, filho de Itamar, o chamando de “traidor e manipulador”. Como resultado, ele foi sendo afastado gradualmente do pai, tanto pessoalmente quanto em relação aos negócios da família.
2020-2022
Em 2020, segundo as investigações, Monique iniciou uma relação extraconjugal com Matheus Palheiras. Por causa disso, ela se separou oficialmente de Itamar. Mesmo assim, continuou manipulando o empresário psicologicamente pelos e-mails de Jéssica.
A polícia afirma que foram feitas várias transferências bancárias, doações de bens e alienações patrimoniais que favoreceram Monique, seu filho João Carlos e Matheus, que se tornou seu marido.
Influenciado pelas conversas com Jéssica, ele ainda alterou seu testamento para beneficiar Monique e seu filho João Carlos, em detrimento de seus filhos. Monique também se tornou a principal beneficiária do seguro de vida de Itamar.
2023
Quando Itamar foi internado no hospital, semanas antes de sua morte, Monique conta com a ajuda de seu filho, João Carlos, para fazer diversas transferências para ambos e também para Matheus Palheiras.
Segundo a Polícia Civil, foram transferidos mais de R$ 6 milhões apenas entre 2019 e 2023 para o trio.
As transferências foram feitas, segundo a polícia, por João Carlos para beneficiar a si próprio e também ao marido da mãe.
Polícia rastreou mensagens
No total, de acordo com a polícia, Monique, Matheus e João desviaram R$ 122 milhões de Itamar
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A investigação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) apontou que dois e-mails da suposta amiga de Serpa, Jéssica Ferrer, eram ligados a um número de celular que pertencia a Monique. O número é inclusive citado por Monique como seu contato oficial em um registro de ocorrência.
Um dos e-mails foi acessado a partir de um IP (número exclusivo que identifica cada dispositivo ligado a uma rede de internet) vinculado a um outro telefone celular de Monique. O número, inclusive, era utilizado como pix de Matheus Palheiras.
Em e-mail, Jéssica Ferrer afirma que precisa contar verdades importantes para o empresário
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Nos e-mails, a personagem Jéssica Ferrer alertava Serpa sobre supostas intrigas contra ele, se utilizando de informações verdadeiras, com o objetivo de manipular o magnata da beleza.
“Ninguém no seu ambiente de trabalho é de sua inteira confiança”, diz o trecho de um e-mail.
A comunicação eletrônica criou uma teia de intrigas, afastando Itamar dos filhos e dos amigos, e influenciando o empresário em decisões financeiras e também na vida pessoal.
De acordo com o relatório final da investigação, Serpa só se divorciou oficialmente de sua ex-mulher, Josefina, após as conversas com Jéssica Ferrer, personagem criada por Monique. As mensagens, segundo a polícia, “reforçavam a necessidade de Itamar se afastar definitivamente de sua ex-esposa e da influência de terceiros”.
“Ela idealizou uma estratégia deliberada e prolongada de manipulação e isolamento praticado contra o Itamar”, afirma o delegado João Valentim Neto.
Respostas dos envolvidos
Em nota, Monique Elias lamenta que “mais uma vez, uma mulher honesta, que construiu família e tem três filhos do falecido, esteja sendo vítima de uma campanha para assassinar a sua reputação e ceifar a sua dignidade, antes do devido processo legal” que conduzirá a Justiça Brasileira a dizer não mais uma vez para a misoginia, o etarismo e tantos preconceitos sofridos pelas mulheres de todo o Brasil, fazendo com que a verdade prevaleça.
O Fantástico e a TV Globo tentaram contato com a defesa de Matheus e João, mas não obteve retorno.