
Carlos Bezerra, ex-secretário de Assistência Social de Ricardo Nunes, afirmou que vai atuar de maneira independente na Câmara; líder do PSD diz que colega mirou nele para atingir o Executivo. Vereador de SP pelo PSD rompe com própria bancada sob alegação de ameaças e autoritarismo
Na última terça-feira (18), o vereador Carlos Bezerra (PSD), pediu a palavra ao fim do Colégio de Líderes da Câmara Municipal de São Paulo. A reunião semanal pauta os trabalhos da Casa nos dias seguintes e, apesar de ser por definição um encontro entre os líderes de bancada, é um evento público.
“A partir deste dia eu não mais respondo à liderança do PSD, passo a ter um mandato independente. Os motivos são públicos: a maneira com a qual vem se conduzindo a bancada e a liderança da bancada aqui nesta Casa são absolutamente sem sentido, de forma antidemocrática”, disse o vereador.
Bezerra, que foi secretário de Assistência Social da prefeitura durante o último governo (2021-2024, com Bruno Covas e Ricardo Nunes) afirmou que, além de ser apartado das decisões do partido, sofreu ameaças.
“Chegamos ao ponto de ouvir ameaças, do tipo ”ou faz uma coisa ou vai pra tal lugar’. Nesse nível. (…) Recebendo recados inclusive do meu líder [Thammy Miranda], de que o líder do governo [Fábio Riva, do MDB] estava me dizendo que eu deveria fazer assim ou assim. Porque se não assim procedesse, sairia da Câmara ou seria substituído.”
Carlos Bezerra Jr., vereador pelo PSD
Procurado pelo g1 para explicar o contexto da situação que descreveu, o vereador afirmou que as relações com o líder de sua bancada e com o líder de governo estão “num padrão de autoritarismo que eu nunca vi antes. Imagina o cara botar o dedo na sua cara e falar: ‘Ó, ou você faz o que eu estou mandando ou eu vou trazer o outro aqui’. Eu falei: ‘Mas você traz agora. Você não precisa me falar duas vezes, você traz agora’. Porque eu não sou subserviente, não vou a essa altura da vida aceitar a ameaça”.
O vereador Carlos Bezerra, do PSD
Richard Lourenço/ Rede Câmara
A rusga do vereador com o governo e sua base não é nova. Bezerra deixou a Secretaria da Assistência e Desenvolvimento Social em abril de 2024 para disputar as eleições, mas não se reelegeu. Ele recebeu 37.571 votos e ficou como suplente pelo PSD.
Durante a composição do novo secretariado de Ricardo Nunes, o entorno do prefeito considerou não contemplar o vereador Rodrigo Goulart (PSD) com uma secretaria para com isso não beneficiar Bezerra, que o substituiria na Câmara. Goulart acabou nomeado secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, e Bezerra voltou à Casa.
Na última quinta-feira (13), quando a Câmara votou a alteração do nome da Guarda Civil Metropolitana para Polícia Municipal, por exemplo, Goulart foi exonerado da pasta. Com isso, voltou a Câmara, como vereador, e desbancou Bezerra, que não pôde votar. Após a votação, Nunes renomeou Goulart na Secretaria do Trabalho.
‘Mirando em mim querendo atingir o governo’
Líder do PSD na Câmara, o vereador Thammy Miranda afirma que o objetivo de Bezerra é “atingir outras pessoas”. “Ele está mirando em mim querendo atingir o governo. E não é bem por aí que funciona.”
Sobre as acusações de autoritarismo, Thammy diz que seu gabinete “sempre vai estar de portas abertas para o diálogo, e autoritarismo é algo que não faz parte nem do meu mandato nem da minha vida”.
Líder do governo refuta manobra
Procurado pelo g1, o líder do governo, Fábio Riva (MDB) afirma não ter esta avaliação de autoritário de outros parlamentares. “Sou líder do governo há 7 anos, fui líder dele, com ele vereador, fui líder com ele secretário. Quer dizer, só ele entende isso? E os outros partidos que compõem (a base)?”
Riva diz que, como líder do governo, naturalmente procura as bancadas da base para saber os votos antes de uma votação importante. “Não tem problema o Bezerra falar: ‘Ah, esse projeto eu não voto’. Não tem problema nenhum. Agora, se o Rodrigo (Goulart, titular da vaga de Bezerra) quiser voltar para votar, é um direito constitucional dele. O Bezerra fez isso várias vezes (quando era secretário). Quer dizer, vale para os outros, mas não vale para ele?”