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Confirmação depende de escavação em área da Pupileira, no bairro de Nazaré. Integrantes da Revolta dos Búzios, da Revolução Pernambucana e da Revolta dos Malês estão entre pessoas que podem ter sido enterradas no local. Possível localização de cemitério de escravizados do século 18 é investigada em Salvador
Silvana Olivieri
A possível localização de um cemitério de escravizados do século 18 é investigada em Salvador. O local pode ter existido onde atualmente funciona o estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré, Centro da capital baiana.
A localização foi descoberta durante uma pesquisa de doutorado desenvolvida na Universidade Federal da Bahia (Ufba) pela arquiteta urbanista Silvana Olivieri. Após comparações de mapas da época e fotos de satélite atuais, ela identificou o local. Nas imagens, é possível ver os pontos comparados, exatamente na entrada da Pupileira. [Confira abaixo]
“Utilizei como fontes vários mapas e plantas de Salvador do século 18, além de escassas referências bibliográficas, especialmente artigos dos historiadores Braz do Amaral (1917) e Consuelo Pondé de Sena (1981), e um livro escrito em 1862 por Antônio Joaquim Damázio, contador da Santa Casa”, detalhou Silvana Olivieri.
Cemitério marcado com “U” em mapa da época, ao lado do Campo da Pólvora, marcado com “V”
Silvana Olivieri
Agora, responsáveis pelo estudo e a Santa Casa de Misericórdia da Bahia, que administra o espaço, negociam uma escavação para constatar a suspeita. O processo é acompanhado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Registros mostram que, além de escravizados, indígenas, integrantes da comunidade cigana e pessoas que não tinham como custear o enterro tiveram os corpos descartados no cemitério perdido. O número de corpos que podem ter sido sepultados na área ainda é desconhecido.
“Entre as dezenas, talvez centenas de milhares de pessoas enterradas nesse espaço fúnebre, estão líderes da Revolta dos Búzios e da Revolução Pernambucana, assim como dezenas de participantes da Revolta dos Malês. Os sepultamentos eram realizados em valas comuns e superficiais, geralmente em condições bastante precárias e indignas, sem nenhuma cerimônia religiosa ou rito fúnebre, nem há registro de capela”, apontou Silvana.
Possível localização de cemitério de escravizados do século 18 é investigada em Salvador
Silvana Olivieri
O local foi inicialmente administrado pela Câmara Municipal e, em seguida, passou a ser de responsabilidade da Santa Casa. Registros históricos apontam 150 anos de atividade, até 1844, quando a instituição comprou e começou a operar o Cemitério Campo Santo, localizado no bairro da Federação.
“O cemitério sofreu um apagamento histórico, desaparecendo tanto da paisagem visível como da memória da cidade. Cento e oitenta anos depois, poucas pessoas lembravam ou sabiam da sua existência”, disse a arquiteta.
Intervenção do MP-BA
Possível localização de cemitério de escravizados do século 18 é investigada em Salvador
Silvana Olivieri
Silvana aponta que a descoberta foi apresentada para a Santa Casa de Misericórdia da Bahia em setembro, durante reuniões com a presença do Iphan, mas sem retornos. Em dezembro, a pesquisadora e o advogado e professor de Direto da Ufba, Samuel Vida, recorreram ao MP-BA, que vem fazendo a conciliação.
“O piso é um piso de terra e brita, então, não tem que quebrar nada. É muito fácil essa pesquisa. Não vai danificar nada. Mas a gente precisa disso para comprovar a materialidade desse cemitério no local”, detalhou a pesquisadora.
A primeira reunião aconteceu no dia 9 de janeiro, sem a presença da instituição que administra o espaço. Já no dia 29 do mesmo mês, todos estavam presentes.
Agora, a Santa Casa tem até 24 de fevereiro para se posicionar sobre a escavação. Caso sejam encontrados os vestígios do cemitério, o local pode se tornar um museu a céu aberto.
“Nossa intenção é retirar definitivamente da invisibilidade e do esquecimento esse sítio de grande valor histórico, arqueológico e cultural, propondo ainda a construção de um memorial em homenagem aos seus mortos, a fim de que sejam tratados com a merecida dignidade, honra e respeito”, ressaltou Silvana Olivieri.
O que diz o Iphan
À reportagem, o Iphan reforçou que, como o cemitério pode ter sido encontrado em um terreno privado, foi solicitada à instituição, de forma administrativa, autorização para a realização da pesquisa arqueológica. Sem detalhar a negociação, o órgão apontou que, quando acontecer, o projeto deverá ser aprovado pelo Iphan.
“Reforça-se que as diretrizes programáticas da atual gestão do Iphan têm priorizado grupos e comunidades historicamente excluídos e/ou marginalizados das ações do Estado brasileiro, como os de matriz africana e de povos originários, apoiando iniciativas diretamente vinculadas à reparação e preservação da memória de processos culturais e sociais de exclusão e violência, com a finalidade de promover a justiça de transição e igualdade étnico-racial”, destacou.
O que diz a Santa Casa da Bahia
Em nota, a Santa Casa de Misericórdia da Bahia informou que já tomou conhecimento do “suposto achado de natureza histórica e arqueológica”, e ressaltou que a assessoria jurídica participou de uma reunião na Superintendência do Iphan para tratar do assunto, que foi abordado também em reunião com o MP-BA.
O posicionamento reforçou ainda a disponibilidade de colaborar com as autoridades, “conforme o possível”, para a iniciativa. Na nota, a Santa Casa de classificou como “uma instituição que prima pela preservação da cultura e da história e mantém um centro de memória e um dos museus mais visitados da Bahia”.
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