Como tarifas de Trump podem afetar a economia de Santa Catarina

Os recentes conflitos econômicos envolvendo Estados Unidos, Canadá, México e China podem impactar, diretamente, em produtos produzidos e exportados por Santa Catarina. Para especialistas ouvidos pelo ND Mais, as tarifas de Trump se tornam um jogo de “soma negativa” para todos os países envolvidos nessa disputa.

Tarifas de Trump ao México e ao Canadá foram suspensas por 30 dias, mas medidas continuam valendo sobre China

Tarifas de Trump ao México e ao Canadá foram suspensas por 30 dias, mas medidas continuam valendo sobre China – Foto: Freepik/ND

O volume de vendas para o exterior chegou US$ 11,6 bilhões em 2024, consolidando Santa Catarina como referência no mercado internacional. Os principais itens de exportação estão relacionados ao agronegócio e à indústria da transformação, segundo dados do Observatório da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina).

Os Estados Unidos são os maiores parceiros comerciais do estado, correspondendo a 14,9% (US$ 1,74 bilhão). Depois vem China, com US$ 1,27 bilhão (10,96%), e México, com US$ 781 milhões (6,71%). Alimentos e bebidas são 38,54% dos itens exportados, seguidos de carne suína (13,72%), motores elétricos (5,78%), soja (5,43%) e partes de motor (4,25%).

“O melhor dos mundos é o comércio aberto”, avalia Fiesc

Logo após iniciar o segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou o aumento dos impostos sobre produtos importados do México, Canadá e China, uma de suas promessas durante a campanha. Inicialmente, o aumento seria de 25% para os países que fazem fronteira com os Estados Unidos e 10% para a nação asiática.

As tarifas de Trump sobre os países vizinhos, contudo, foram suspensas por um prazo de 30 dias, mantendo apenas o valor imposto à China.

“Se o Brasil ficar de observador dessa guerra comercial, o país e Santa Catarina tendem a ganhar. Mas se houver uma guerra tarifária, é um jogo de soma negativa e fica mais caro para todo mundo”, avalia o economista-chefe da Fiesc, Pablo Bittencourt, as tarifas de Trump.

Peças de capintaria, motores elétricos e peças de motores são os principais produtos catarinenses exportados aos Estados Unidos

Peças de capintaria, motores elétricos e peças de motores são os principais produtos catarinenses exportados aos Estados Unidos – Foto: Eduardo Valente/SECOM/ND

Até o momento, as sanções impostas pelo governo norte-americano compreendem todos os itens fabricados na China, concorrente direto de Santa Catarina nas produções de motores elétricos e móveis de madeira. O aumento no preço para importação pode beneficiar o mercado catarinense.

“Com aumento de tarifas imposto à China em 2018, boa parte da produção foi deslocada para o Vietnã e lá não tem tarifa ainda. Se houver tarifa contra o Vietnã, Santa Catarina tende a ganhar ainda mais potência com um eventual aumento das exportações”, projeta Bittencourt.

“O melhor dos mundos é o comércio aberto, tá?! Mas está tudo muito incerto ainda”, pondera.

Tarifas de Trump geram cenário de incertezas, avalia especialista

Produtos de carpintaria, motores elétricos, partes de motores, madeira e móveis foram os principais produtos exportados de Santa Catarina para os Estados Unidos em 2024, como mostra o Observatório da Fiesc.

Multinacionais desses segmentos e que investiram no estado poderiam ser beneficiadas com as sanções, ao mesmo tempo que eventuais tarifas de Trump sobre o Brasil podem reduzir a competitividade do estado.

Tarifas de Trump sobre importações da China buscam forçar investimento em capital produzido no território norte-americano

Tarifas de Trump sobre importações da China buscam forçar investimento em capital produzido no território norte-americano – Foto: Roberto Schmidt/AFP/ND

“Há uma incerteza para o futuro porque não se sabe se as taxas serão mantidas, se o governo vai recuar ou se haverá uma pressão para mantê-las. Fica também a dúvida de quando e se o Brasil será alvo do governo Trump, o que impacta nas empresas que investiram em Santa Catarina e no Brasil, com a intenção de exportar para o mercado norte-americano”, destaca o doutor em Ciência Política e professor de Relações Internacionais da UFSC, Daniel Ricardo Castelan.

No entendimento do internacionalista, o movimento pode fazer com que os Estados Unidos se afastem de uma política econômica liberal e se aproxime de um viés protecionista.

“Pode ser que ele mantenha a decisão na intenção de, definitivamente, iniciar um ciclo protecionista mais forte e fazer com que os capitais, hoje instalados no México e no Canadá retornem aos Estados Unidos”, analisa sobre as tarifas de Trump.

Aumento de impostos sobre produtos da China podem causar pressionar a inflação no Brasil

Aumento de impostos sobre produtos da China podem causar pressionar a inflação no Brasil – Foto: Freepik/ND

Aumento da inflação no Brasil

Um dos impactos das tarifas de Trump sobre o Brasil e, consequentemente, Santa Catarina, pode ser um eventual aumento da inflação, uma vez que a demanda por exportações pode sufocar a produção e gerar aumento nos preços em território nacional.

“Um ponto a ser avaliado é se o Brasil e Santa Catarina têm capacidade de expandir a produção rapidamente porque, se não tiver capacidade ociosa, se as empresas já estiverem no limite da sua produção, isso vai aumentar o ciclo inflacionário que já existe”, alerta Castelan.

“Se essa diretriz se mantiver, o Brasil não tá fora de ser um alvo também. Ninguém tá fora de ser um alvo”, diz o professor da UFSC.

O raciocínio vai ao encontro do que analisa o economista-chefe da Fiesc, Pablo Bittencourt, em relação às tarifas de Trump sobre Santa Catarina.

“Mais caro para todo mundo é inflação mais alta, inflação mais alta é juro mais alto e significa contração de atividade econômica”.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.