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A ONG Mover Helipa é comandada por José Renato Varjão, que trabalhou com outros integrantes da família Tatto. Entre eles, o deputado federal Nilto Tatto. Todos são do PT. Ministério do Desenvolvimento Social suspende repasse de dinheiro à ONG responsável por gerir produção de quentinhas
O jornal “O Globo” publicou uma denúncia sobre uma ONG de São Paulo investigada por não entregar refeições a pessoas em situação de vulnerabilidade. Nesta sexta-feira (7), o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome suspendeu o repasse de dinheiro à ONG.
Não era nem meio-dia e os moradores de um bairro na Zona Sul de São Paulo já faziam fila para ganhar uma quentinha. Eles contaram que a distribuição é uma novidade por lá.
Repórter: Antes de sexta passada, eles entregavam quentinha aqui?
Márcia Gomes Fonseca, dona de casa: Não, não. Está entregando agora.
Repórter: E era o que ali?
Márcia: Era uma igreja. Era curso de trança e cabelo, unha, essas coisas.
Uma foto da semana passada mostra a igreja fechada. Ali deveria funcionar uma cozinha solidária, comandada pela ONG Madre Teresa de Calcutá, que fez uma parceria com outra ONG, a Mover Helipa – que, por sua vez, foi contratada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social para gerenciar a produção de quentinhas para pessoas em situação de vulnerabilidade. Um contrato no valor de R$ 5,6 milhões.
Uma reportagem do jornal “O Globo” revelou que Paula Souza Costa, presidente da ONG Madre Teresa de Calcutá, assinou um recibo de R$ 11 mil pelo “apoio à produção e oferta de 4.583” quentinhas em dezembro. Ao jornal, ela admitiu que nenhuma quentinha foi entregue naquele mês. Na época, Paula Souza trabalhava no gabinete do então vereador Arselino Tatto, do PT.
Nesta sexta-feira (7), depois da reportagem do jornal, equipe do Jornal Nacional foi até o local e a cozinha estava funcionando. No cardápio, macarrão com salsicha. O fogão e as panelas novinhos indicam que a estrutura foi montada há pouco tempo. Paula Souza estava lá e disse que faz um trabalho sério.
“Eu tenho um trabalho muito lindo, lindo mesmo, muito bonito. E eu estou pagando um preço agora para ficar ouvindo essas informações que deixam qualquer um muito triste”, diz Paula Souza Costa, presidente da ONG Madre Teresa de Calcutá.
No total, a ONG Mover Helipa subcontratou 39 entidades para fornecer quentinhas.
Governo suspende repasse a ONG de São Paulo responsável por gerenciar produção de quentinhas para pessoas em vulnerabilidade
Jornal Nacional/ Reprodução
“Esse é o endereço de uma outra ONG que, por contrato, deveria fornecer 4.583 quentinhas por mês. A gente chegou aqui por volta de 13h. Não tinha nenhum movimento nem de distribuição nem nada que parecesse que essas quentinhas foram feitas aqui dentro. Do lado de fora, parece uma casa normal. Ela fica em um bairro do extremo sul da capital, em uma região com muita mata. É até difícil ver alguém passando por aqui”, diz o repórter Philipe Guedes.
O presidente da ONG, Claudinei Florêncio, também é ex-assessor de Arselino Tatto, do PT. Na semana passada, no portão da casa, havia um adesivo de campanha de Tatto. Na prestação de contas, a ONG informou ter entregue mais de 4 mil quentinhas em dezembro de 2024 e que recebeu por isso.
Mas ao jornal “O Globo”, Claudinei Florêncio admitiu que não entregou quentinhas naquele mês. Ele não quis gravar entrevista. Mostrou uma cozinha recém-inaugurada em outro endereço e disse que começou a entregar as quentinhas nesta semana.
A ONG Mover Helipa é comandada por José Renato Varjão, que trabalhou com outros integrantes da família Tatto. Entre eles, o deputado federal Nilto Tatto. Todos são do PT. Varjão negou interferência dos políticos e disse que vai pedir o descredenciamento das instituições citadas na reportagem.
“Nós fazemos visitas trimestrais nessas cozinhas e elas estavam no nosso cronograma para poder visitá-las e nós, antes da visita, veio a denúncia. Corremos, fomos fazer algumas visitas e constatamos que tinha algumas cozinhas que não estavam de fato trabalhando no mês de dezembro. Eu prefiro que seja assim e que seja apurado e seja esclarecido, porque trabalhar sobre suspeita, quando a gente alega inocência não é legal”, afirma José Renato Varjão.
O ex-vereador Arselino Tatto declarou que todos os funcionários dele fazem trabalho social sério e que não participou do processo de contratação das ONGs.
O deputado federal Nilto Tatto, do PT, afirmou que não teve ingerência em nenhuma organização citada na reportagem.
O Ministério do Desenvolvimento Social declarou ter repassado quase R$ 4 milhões para a ONG Mover Helipa e bloqueado, na quinta-feira (6), o repasse de R$ 1,6 milhão. O ministério anunciou que uma equipe vai fiscalizar as cozinhas solidárias desse contrato e que tomará as medidas cabíveis se comprovar irregularidades.
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