Filmes de Cacá Diegues legam grandes canções à música popular brasileira


Obra do cineasta tem trilhas sonoras e/ou composições feitas por nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor. Capas de discos com trilhas sonoras de filme de Cacá Diegues
Reproduções / Montagem g1
♫ MEMÓRIA
♪ Imensurável, a contribuição de Cacá Diegues ao cinema brasileiro se estende à música popular do Brasil. A obra cinematográfica do alagoano Carlos José Fontes Diegues (19 de maio de 1940 – 14 de fevereiro de 2025) – o grande cineasta brasileiro que morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 84 anos, no Rio de Janeiro (RJ) – tem nas trilhas sonoras um elemento quase tão fundamental quanto o roteiro dos filmes deste diretor, um dos fundadores do Cinema Novo, movimento que floresceu nos anos 1960.
Criadas por compositores do quilate de Carlos Lyra (1933 – 2023), Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor, as trilhas sonoras de muitos filmes de Cacá Diegues estão imortalizadas no cancioneiro nacional.
Bastaria citar como exemplo a trilha original do filme Quando o Carnaval chegar (1972). Nada menos do que sete músicas inéditas de Chico Buarque – Baioque, Bom conselho, Caçada, Mambembe, o tema-título Quando o Carnaval chegar, Partido alto e Soneto – foram apresentadas no filme nas vozes de Chico, Maria Bethânia, MPB4 e Nara Leão (1942 – 1989). Destas sete, Baioque, Mambembe, Partido alto e a música-titulo atravessam gerações em sucessivas regravações.
No ano seguinte, a trilha do filme Joanna Francesa (1973) legou mais um clássico de Chico Buarque. A música-título Joana francesa, ouvida nas vozes de Chico e Fagner na trilha do filme, ganharia as vozes de cantoras identificadas com a dramaticidade do cancioneiro do compositor.
Em 1976, Jorge Ben Jor foi tão genial ao criar a música-tema do filme Xica da Silva que ficou impossível dissociar o longa-metragem da composição. O mesmo pode ser dito da música-título do filme Bye bye Brasil (1979), composta por Roberto Menescal com o recorrente Chico Buarque.
Em 1987, o cineasta lançou o filme Um trem para as estrelas com trilha sonora composta por Gilberto Gil, que se tornou parceiro de Cazuza (1958 – 1990) na música-título do longa protagonizado pelo ator Guilherme Fontes.
Embora não seja original, a trilha sonora do filme Dias melhores virão (1989) legou a então inédita música-título, parceria de Rita Lee (1947 – 2023) com Roberto de Carvalho gravada pelo casal 20 do pop nacional para o filme estrelado pela atriz Marília Pêra (1943 – 2025), intérprete de Chica chica boom chic (Harry Warren e Mack Gordon, 1941), sucesso de Carmen Miranda (1909 – 1955) nos Estados Unidos.
Nos anos 1990, a trilha sonora de Tieta do Agreste (1996), inteiramente composta por Caetano Veloso, legou um dos últimos grandes sucessos do cancioneiro autoral de Caetano, o samba-reggae A luz de Tieta, gravado por Caetnao com Gal Costa (1945 – 2022) e Didá Banda Feminina. Desde então, A luz de Tieta tem sido presença infalível no bis de muitos shows de Caetano.
Dois anos depois, Cacá Diegues bisou em Orfeu (1998) a parceria com Caetano Veloso, compositor de canções como Sou você, ouvida na voz do cantor Toni Garrido, protagonista do filme.
Vinte anos depois, em 2018, ao lançar o filme O grande circo místico, Cacá recorreu à sublime trilha sonora original composta por Edu Lobo e Chico Buarque em 1982 para espetáculo de dança estreado em 1983 pelo Ballet Guaíra. Na trilha, o cineasta alternou o uso das gravações originais da trilha do balé de 1983 com registros inéditos como o de Salmo (1985), tema extraído de outra trilha de Edu e Chico, a do musical de teatro Corsário do rei (1985), e ouvido no filme de Cacá na voz de Mônica Salmaso.
Enfim, a música do Brasil deve muito a Carlos Diegues desde os anos 1960, década em que filmes como Cinco vezes favela (1962) e Ganga Zumba (1964) ecoaram nas telas uma trilha sonora tão brasileira quanto o cinema deste gigante da Sétima Arte.
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