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Santa Catarina já conta com 1.200 hectares de cultivo sustentável de aipim (ou mandioca de mesa) – Foto: Divulgação
O aipim de mesa, também conhecido como mandioca ou macaxeira, é um alimento essencial na culinária brasileira. Em Santa Catarina, sua produção movimenta mais de R$ 330 milhões por ano, com cerca de 13 mil hectares plantados e uma produtividade média de 21 toneladas por hectare.
Os nomes dessa raiz são diversos: mandioca, macaxeira, mandioca brava, mandioca mansa e aipim de mesa. Embora pareçam variações do mesmo alimento, há uma distinção fundamental: enquanto uma é própria para o consumo direto, a outra é destinada à indústria.
A mandioca industrial é utilizada principalmente para a produção de farinha, fécula e polvilho. Suas variedades possuem maiores concentrações de ácido cianídrico, um composto tóxico, o que a diferencia da mandioca de mesa. Para que seja considerada segura para o consumo, é essencial que a raiz apresente níveis reduzidos desse composto.
Essa diferenciação é amplamente estudada em pesquisas e define o destino da mandioca na cadeia produtiva: enquanto a mandioca de mesa é comercializada em feiras e supermercados, a versão industrial passa por processos que eliminam sua toxicidade antes do consumo.
A importância das pequenas agroindústrias
Na Estação Experimental da Epagri, em Urussanga, foram desenvolvidas quatro novas variedades de aipim, que estão sendo distribuídas para lavouras de todo o estado por meio da Rede Maní. Esse projeto, criado pelo órgão, integra pesquisa, extensão rural e produtores na avaliação do desempenho dessas cultivares.
O extensionista Juliano Garcez explica que o programa tem como objetivo selecionar variedades de mandioca mais resistentes a pragas, doenças, estiagens e excesso de chuvas. Também são analisadas características organolépticas, como textura, teor de fibras, facilidade no descascamento e aparência da raiz, garantindo maior qualidade ao produto final.
A meta é elevar a produtividade média do estado para 30 toneladas por hectare, um avanço que já começa a impactar o crescimento das agroindústrias instaladas em propriedades rurais. No processamento do aipim de mesa, um dos fatores mais relevantes é justamente o fortalecimento das pequenas agroindústrias, que vêm expandindo sua atuação na transformação dessa raiz.
Atualmente, além da comercialização in natura, muitas dessas agroindústrias diversificaram sua produção, oferecendo derivados como biomassa, salgadinhos e outros produtos processados, agregando valor à cadeia produtiva e ampliando o mercado.
Na região Oeste de Santa Catarina, em Caxambu do Sul, onde se concentra a maior produção de aipim de mesa do estado, a propriedade do agricultor Claudino Ferrari se destaca como unidade de referência tecnológica da Epagri.
Mais do que cultivar, ele processa o aipim e entrega o produto pronto para o mercado, garantindo qualidade e segurança alimentar. Com três hectares plantados, já atingiu uma produtividade de 31 toneladas por hectare com as novas variedades desenvolvidas.
Além de abastecer outras lavouras, o sistema de manejo adotado na propriedade e na agroindústria também funciona como uma oficina de avaliação do aipim, permitindo que os agricultores testem e aprimorem o produto antes de colocá-lo no mercado.
Plantio direto garante maior produtividade
Santa Catarina já conta com 1.200 hectares de cultivo sustentável de aipim (ou mandioca de mesa), impulsionado por tecnologias inovadoras como o plantio direto. Essa prática tem garantido um aumento de 28% na produtividade em relação à média nacional, consolidando o estado como referência no setor.
A produção de alimentos depende diretamente da qualidade do solo e de seus nutrientes, e o aipim foi a mais recente cultura agrícola de Santa Catarina a adotar o sistema de plantio direto.
No Centro de Treinamento da Epagri, em Chapecó, essa técnica vem sendo disseminada entre os produtores pelo agrônomo Ivan Tormem, líder regional dos projetos de horticultura e fruticultura. Ele explica que a manutenção da cobertura vegetal do solo tem substituído o manejo convencional, preservando as propriedades naturais da terra e garantindo maior sustentabilidade ao cultivo.
Inclusive, por meio de uma rede integrada de distribuição e avaliação de novas variedades de aipim, aliada ao manejo sustentável do solo, a Epagri tem ampliado a produtividade e despertado o interesse de mais agricultores, fortalecendo essa cultura no estado.
Alimento versátil e rico em nutrientes
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Além de ser uma fonte natural de energia, o aipim é rico em fibras e nutrientes essenciais – Foto: Divulgação
O aipim é hoje considerado o segundo alimento energético mais consumido no mundo, sendo fundamental para a segurança alimentar global. Graças à sua ampla adaptabilidade, ele pode ser cultivado desde o nível do mar até altitudes de 2.000 metros, o que possibilita seu plantio em mais de 100 países e garante a alimentação de aproximadamente 1 bilhão de pessoas ao redor do planeta.
Além de ser uma fonte natural de energia, o aipim é rico em fibras e nutrientes essenciais. A nutricionista e extensionista da Epagri, Elisiane Casaril, explica que seus carboidratos complexos ajudam a prolongar a sensação de saciedade.
O aipim também se destaca pelo seu alto valor nutricional, sendo uma excelente fonte de micronutrientes essenciais, como fósforo, potássio, magnésio, cálcio e vitamina C. Além disso, suas fibras contribuem para o bom funcionamento do intestino, tornando-se uma opção saudável para incluir na alimentação. E um detalhe importante: ele não contém glúten.
Outro diferencial é sua versatilidade na cozinha. Ele pode ser servido como acompanhamento, ser a base para receitas doces e salgadas ou ainda dar origem a derivados como tapioca, polvilho e farinha, ingredientes amplamente utilizados na gastronomia.
Nutritivo, saboroso e extremamente versátil, o aipim sai direto da lavoura para enriquecer a mesa dos consumidores, tornando-se uma escolha saudável e cheia de possibilidades.
Para entender como funciona a plantação da raiz em Santa Catarina, aproveite e assista ao episódio do programa Agro, Saúde e Cooperação. O projeto, desenvolvido pelo Grupo ND, tem parceria com a Ocesc, Aurora, SindArroz Santa Catarina e Sicoob.