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O ano de 2024 foi o mais quente já registrado na história e as temperaturas atingidas nas primeiras semanas de 2025 já preocupam as autoridades climáticas sobre um possível novo recorde.
Só neste ano, o Brasil já passou por pelo menos três grandes ondas de calor. A mais recente começou no fim de semana no Rio Grande do Sul, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Esses fenômenos climáticos acendem um alerta sobre o limite da saúde humana para aguentar altas temperaturas. Isso porque o organismo pode sofrer consequências como estresse, insuficiência cardíaca e lesão renal aguda por desidratação.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as ondas de calor têm relação direta com o aumento da mortalidade. No Sistema Único de Saúde (SUS), pelo menos 7% das internações estão relacionadas ao clima quente.
Especialistas da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) explicam que as ondas de calor provocam um aumento de mediadores inflamatórios no organismo humano. Esse fator é ainda mais preocupante porque afeta idosos, crianças, gestantes, obesos e pessoas com deficiências crônicas, sem contar a piora nas alergias de pele e respiratórias.
“Ao contrário de outros eventos climáticos extremos, como tornados e enchentes, o calor passa a sensação de ser menos agressivo ou mais tolerável pelas pessoas. É essa falsa percepção que faz com que ondas de calor sejam extremamente perigosas para a saúde humana”, explicam os especialistas da ASBAI, reiterando que o risco de mortalidade cardiovascular e respiratória tende a ser maior nos dias de calor intenso.
Como é a reação do corpo ao calor?
Cinco mecanismos fisiológicos podem aparecer de repente devido à temperatura elevada: isquemia, citotoxicidade, inflamação, coagulação intravascular disseminada e rabdomiólise. Além disso, o calor pode impactar gravemente sete órgãos: cérebro, coração, intestinos, fígado, rins, pulmões e pâncreas.
Em temperaturas acima de 39 °C, as enzimas fundamentais para o metabolismo sofrem uma queda abrupta na velocidade das reações químicas necessárias à vida. Ou seja, o corpo começa a parar de quebrar proteínas e açúcares para obter nutrientes e energia, o que explica o cansaço e a fadiga atribuídos aos períodos de calor.
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De acordo com os médicos da ASBAI, o ser humano controla sua temperatura de duas formas. Uma delas é por meio dos vasos sanguíneos que se dilatam para levar mais sangue até a pele, para que o calor possa ser irradiado para fora do corpo. A outra é por meio do suor, que refresca a pele por evaporação.
O corpo também perde muito líquido na tentativa de se aliviar pelo suor, o que leva à desidratação e torna o sangue viscoso, afetando os rins e o coração, que são mais exigidos. A desidratação também causa vasoconstrição, que eleva o risco de trombose e de acidente vascular cerebral.
Risco para a natureza e o cotidiano
O calor intenso não é problemático apenas para os humanos: afeta os organismos vivos como as plantas, afetando a fotossíntese, a respiração, o crescimento, o desenvolvimento e a reprodução; bem como os animais, levando a alterações fisiológicas e comportamentais, como redução da ingestão calórica, aumento da ingestão de água e diminuição da reprodução e do crescimento.
O impacto do calor nos animais é preocupante, sobretudo, pelos seus resultados na produção de recursos, como a comida. Aqui no Brasil, o preço dos ovos subiu em quase 40% nas primeiras semanas de fevereiro, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP. Um dos motivos apontados para isso é o impacto do aumento das temperaturas na saúde e na produtividade das galinhas.