
Segundo pesquisa do Procon (SP), 71% dos apostadores tiveram perdas financeiras e 39% possuem dívidas por causa dos jogos. Para psicóloga, cenário pode levar à “vulnerabilidade psicológica”. Endividamento e queixas crescem entre apostadores, aponta Procon
“A cada passo que ele ganhava, dois ele perdia. É um vício que só quem passa por isso mesmo sabe”, conta uma mãe, moradora de Campinas (SP) que prefere não ser identificada, sobre o vício do filho de 19 anos em jogos de aposta online. O rapaz perdeu cerca de R$ 20 mil em apostas, segundo a mãe.
O caso acompanha o que indica uma pesquisa do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) no Estado de São Paulo. Em entrevista com 251 apostadores, 71% afirmaram ter perdas financeiras. Confira abaixo.
De acordo com a psicóloga Sabrina Amaral, o cenário de dívidas em decorrência das apostas pode levar à vulnerabilidade psicológica e gerar casos de transtorno de ansiedade, ataques de pânico e ideação suicida. Tratamento precisa de terapia e, em alguns casos, de medicamentos para regulação emocional.
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O caso
“Tinha jogos que era de futebol. Era tudo legalizado e a gente até embarcava nessa. Mas quando eu vi a ‘perca’ grande de um dinheiro, eu falei ‘epa, tem alguma coisa errada'”, contou a mãe em entrevista à EPTV.
Ela disse que começou a desconfiar do filho quando ele pediu R$ 6 mil emprestado para pagar um curso, em novembro de 2024.
“A princípio eu não tinha, mas ele disse que podia ser o cartão. Eu emprestei, mas não era para o curso. Era para apostar novamente, para ver se ele conseguia o dinheiro que ele pediu emprestado”, contou.
A mãe descobriu a situação no dia de pagar o cartão, depois de perceber que o jovem estava nervoso. Quando questionou sobre o valor, ele começou a chorar e admitiu o vício.
“Eu sentei com ele na cama e falei: ”vamo’ jogar a verdade?’. Eu sei que você perdeu esse dinheiro na aposta’, porque eu já estava desconfiada. Então eu joguei pra ele, e ele começou a chorar, falou ‘mãe, eu tô ‘viciado”, disse a mãe.
No dia, ela conta que também questionou sobre o dinheiro que o filho ganhava com vendas na internet. Ele, porém, disse que não tinha como pagar: “perdi tudo”, afirmou o jovem.
“Para os pais que estão desconfiados, vai atrás, pergunta, mas eu acho que a gente tem que ter um cuidado para eles se sentirem tranquilos para falar isso para a gente. Eu acho que essa conversa legal com o meu filho foi o que fez ele admitir, ‘olha, eu estou viciado'”, disse a mãe.
“A pessoa que está nesse lugar do vício do jogo já se sente culpada, ela já se sente envergonhada e impotente para lidar com aquilo. Então, criar um espaço de escuta ativa, com bastante empatia, aonde ela possa desabafar e falar como ela se sente”, explica Sabrina Amaral. “É naturalizar esse sofrimento dela e mostrar um intenção positiva de esperança de sair daquele lugar”, conclui a psicóloga.
Pesquisa do Procon (SP) mostra que 71% dos apostadores tiveram perdas financeiras
Reprodução EPTV
Pesquisa do Procon
Em entrevista com 250 pessoas que fazem apostas online no Estado de São Paulo, 71% afirmou ter mais perdas financeiras do que ganhos. A pesquisa foi realizada entre o fim de 2024 e início de 2025.
Além disso, as entrevistas apontam que 39% dos apostadores possuem dívidas por conta dos jogos online e 63% enfrentaram problemas com a empresa que oferta os jogos, como não pagamento do prêmio ou envio constante de mensagens incentivando a apostar.
Dos 251 entrevistados:
71% afirmam ter perdas financeiras
39% possuem dívidas por causa das apostas
48% comprometeram a renda tirando dinheiro de aplicações ou pedindo empréstimos
89% declaram receber ofertas de jogos nas redes sociais
52% declaram que as publicidades com celebridades influenciaram na decisão de apostar
Em relação ao gasto mensal médio:
47% dos entrevistados gastam até R$ 100 com as apostas
26% gastam entre R$ 100 e R$ 500
8% gastam entre R$ 500 e mil reais
8% gastam acima de mil reais
Perfil dos entrevistados:
58% são do sexo masculino
51% têm de 31 a 44 anos
30% entre 18 a 30 anos
50% recebem até 2 salários mínimos
30% recebem entre 2 e 4 salários mínimos
Ainda segundo o Procon, cerca de 2.300 reclamações contra empresas que promovem apostas foram registradas desde janeiro de 2024. Dessas queixas, 90% se referem à falta de pagamento de prêmios e não devolução de valores.
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