
A vida da blumenauense Fernanda Isolani, de 45 anos, mudou completamente em junho de 2024. A mulher foi agredida pelo ex-companheiro às margens da BR-282, em São Francisco do Sul, no Norte de Santa Catarina. Nove meses após o crime, ela compartilha seu relato de sobrevivência e busca por justiça.

Mulher brutalmente agredida e abusada pelo ex-companheiro busca por justiça em SC – Foto: Reprodução/rawpixel.com/Freepik
O caso de Fernanda está sob segredo de justiça na comarca de São Francisco do Sul. No dia 4 de fevereiro deste ano, o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) ofereceu denúncia ao TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), pelos crimes de abuso sexual e lesão corporal. Contudo, Fernanda acredita que também sofreu uma tentativa de feminicídio.
Em entrevista para a NDTV Record de Blumenau, a vítima contou detalhes do relacionamento que teve com o acusado. Segundo Fernanda, na noite anterior à brutal violência que sofreu, ela foi ameaçada de morte pelo ex-companheiro.
“Hoje, tendo conhecimento, indo buscar o que aconteceu, foi um relacionamento abusivo. No começo, a gente viveu uma lua de mel, ele me conquistou e, depois disso, as condições de relação começaram a ficar tensas”, relembrou.
A vítima relatou que o homem não aceitava o fim do relacionamento, e que foram cerca de três tentativas de separação até o caso registrado em 9 junho de 2024. Fernanda disse ter vivido muitos abusos psicológicos do então parceiro, que evoluíram para comportamentos mais agressivos.
No final de semana em que os crimes foram registrados, Fernanda estava em viagem com o homem, que a levou para sua casa na Praia do Ervino, em São Francisco do Sul. Na residência, ela diz ter sofrido violência sexual, sendo segurada à cama.
“Quando eu me mexia, ele acordava para eu não sair do quarto, ou ter o controle para ver onde é que eu iria. Uma vez, eu consegui levantar e fui ver a chave do carro, para ir embora, mas a chave já não estava no mesmo lugar”, contou.
A mulher então decidiu pedir para voltar para Blumenau, foi quando o acusado teria começado a debochar dela e a comparar com outras parceiras com quem havia se relacionado.
“Foi agressão psicológica o tempo inteiro. Eu fiquei apreensiva e não teve gritaria, não teve nada disso. Na verdade, eu fiquei ouvindo várias barbaridades dele para mim, ali ele se sentiu à vontade, estava no ambiente dele, estava seguro, onde ele me deixou frágil e vulnerável para fazer o que quisesse, e foi o que ele fez”.
Mulher foi agredida pelo ex às margens de rodovia
Antes de pegar a estrada de volta para a casa, Fernanda conta ter sido agredida dentro da casa, após ele perceber que ela tentava acionar a polícia. Apesar de resistente à ideia de entrar no carro novamente com o homem, ela diz que só pensava em voltar logo para sua residência em Blumenau.
No caminho, a mulher percebeu uma inquietação no acusado, que insistiu em conduzir o carro. Ela evitou olhar para ele durante o trajeto e, em certo momento, ao pegar as chaves de casa e seus objetos, percebeu que o carro havia sido estacionado.
“Eu não entendi nada. [Nesse momento] ele dá a volta por trás do carro, abre a minha porta e eu só olho para ele e digo ‘o que você vai fazer agora?’ e nisso, dali para frente, eu não lembro de mais nada”, contou Fernanda.
A mulher diz acreditar que o homem de fato queria matá-la, pois além de deixá-la desacordada, fugiu logo em seguida.
“Tanto que agora, com o inquérito policial pronto, com as duas últimas testemunhas mais importantes que viram o que aconteceu, hoje eu sei o que ele fez comigo, mas eu não sabia”.
As testemunhas, mãe e filha, estavam a caminho de Jaraguá do Sul quando presenciaram a mulher ser agredida pelo ex. Em depoimento prestado à polícia, elas contaram ter visto o homem aplicando um “mata leão” na vítima, que estava de joelhos, a empurrando em uma espécie de ribanceira logo em seguida. Além das duas mulheres, outras pessoas presentes no local ampararam Fernanda, e acionaram as autoridades e equipes de socorro.
Com as agressões, a vítima detalha ter sofrido quatro fraturas no lado direito do rosto. “Antes dele dar essa chave no meu pescoço, ele me socou bastante, porque não quebra um osso assim sozinho”.
O acusado chegou a ser preso em flagrante no dia do crime, após abandonar Fernanda e ser localizado pela guarda de trânsito em Blumenau, inclusive, com a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) suspensa. Contudo, na audiência de custódia, ele foi solto.
Mulher agredida pelo ex busca por justiça enquanto se recupera
Fernanda ficou internada por 12 dias e precisou passar por um procedimento de reconstrução do rosto. “Eu sei que vai ficar sequelas para minha vida, porque com o processo de envelhecimento, meu rosto vai mudar e eu tenho placas, eu tenho 12 parafusos no meu rosto”.
A mulher agredida pelo ex-companheiro conta que, mesmo com a medida protetiva e outras ações cautelares, não consegue se sentir segura, já que o homem também possui uma casa no bairro onde ela reside com as filhas, de 16 e 20 anos.
“Nós frequentávamos lugares comuns, tem lugares que eu não consigo mais entrar porque eu sei que ele também frequentava com frequência. Então hoje, sair em ambientes públicos é muito raro, eu tenho que estar muito bem acompanhada e segura para isso”, comentou.
Nove meses após o dia que mudaria sua vida drasticamente, Fernanda segue cuidando do emocional e psicológico. A rotina de autocuidado é indispensável pela mulher, que além de justiça, busca se reerguer.
“Eu sempre soube que o autocuidado é muito importante e não tem ninguém que possa fazer isso pela gente. Então, quando eu ganhei a alta do hospital, eu fiquei 60 dias ainda depois em casa, para fazer uma rotina de autocuidado, cuidar do corpo, da alimentação, cuidar da mente e do espírito, para poder se reerguer”.
Enquanto passa por esse processo, a mulher agredida pelo ex-parceiro também aguarda a decisão do judiciário sobre seu caso, que está em segredo de Justiça.
“Espero que o Poder Judiciário faça o seu melhor, porque eu acredito que é possível fazer. Tem pessoas que estão por trás disso também, tem família, tem mulheres e precisa ser olhado com mais cuidado, com responsabilidade, é o que eu estou esperando”.
A própria segurança é algo que preocupa Fernanda. Durante entrevista para a NDTV Record de Blumenau, ela contou que anda com o celular, para caso precise acionar o botão do pânico da Rede Catarina, ferramenta da Polícia Militar para proteger as vítimas e prevenir casos mais graves.
O que diz defesa de homem acusado de agredir mulher em SC
Em nota encaminhada para a NDTV Record de Blumenau, a defesa do homem acusado de estupro e violência doméstica alegou ele teria sido surpreendido pelas acusações e repercussões judiciais, e que atua com respeito ao processo legal.
“Que o Judiciário, até o momento, tem se posicionado dentro da lei e da ordem, sempre de forma totalmente isenta e dentro de sua missão institucional; Que toda a verdade será esclarecida no decorrer dos diversos processos provocados pelas acusadoras; Inclusive, estranha-se a quantidade de iniciativas judiciais que as acusadoras vêem elaborando, aparentando haver mais que simples procura por Justiça, mas talvez um desejo de vingança ou locupletação pecuniária”, diz.
Como buscar ajuda em casos de violência doméstica
Toda violência doméstica deve ser denunciada sob a Lei Maria da Penha. Se presenciou ou foi vítima, informe as autoridades. Em Santa Catarina, a denúncia pode ser feita de maneira online na Delegacia de Polícia Virtual da Mulher por este link ou pelo WhatsApp (48) 98844-0011.
Na Polícia Militar, usa-se o aplicativo PMSC Cidadão. Já por telefone, a denúncia pode ser anônima pelos telefones 181 (Polícia Civil), 190 (Polícia Militar) e 180 (Disque Denúncia).

Julgamentos de casos de feminicídio disparam 225% no Brasil; mulher agredida pelo ex em SC busca por justiça – Foto: Reprodução/ND