
A exploração do petróleo na Margem Equatorial brasileira, a cerca de 500 km da foz do Amazonas, é uma oportunidade estratégica. Ignorar essa riqueza seria uma irresponsabilidade histórica e um descaso com os interesses soberanos do nosso país, e por isso o assunto deveria estar entre os principais assuntos em discussão e fora da escala de radicalização política do Brasil. Estudos indicam que essa região pode conter até 30 bilhões de barris de petróleo, um patrimônio equivalente a mais de US$ 2 trilhões, considerando os preços atuais. Com um licenciamento ambiental responsável e as tecnologias avançadas que a Petrobras já domina, o Brasil pode garantir uma exploração segura e eficiente, assegurando centenas de bilhões de dólares em investimentos para a proteção da Amazônia e o desenvolvimento sustentável do Norte e Nordeste.
Com recursos direcionados por lei para a preservação ambiental, o país compensaria, de forma permanente e em centenas de vezes, o custo ecológico dessa exploração, que ocorreria ao longo de quatro ou cinco décadas. Hoje o estado brasileiro não tem um plano concreto e consequente para a Amazônia perante a nação nem perante o mundo. Poderia ter, e com meios reais de execução. Os números fechariam amplamente a favor dessa estratégia. O nosso petróleo pagaria a conta.
Não podemos depender da hipocrisia de países como a Noruega, que financiam projetos ambientais no Brasil enquanto exploram petróleo em seu próprio território. Em 2023, a Noruega produziu cerca de 2 milhões de barris por dia, gerando mais de US$ 100 bilhões em receitas anuais. Apenas uma fração irrisória desse valor é destinada a programas ambientais no Brasil, enquanto eles seguem expandindo sua produção. Esse modelo paternalista que aceitamos , não nos engrandece .
Pude testemunhar essa contradição pessoalmente. Quando fui ministro do Turismo no governo Temer, participei da 67ª reunião da Comissão Internacional da Baleia (CIB), realizada de 10 a 14 de setembro de 2018, no Costão do Santinho, em Florianópolis. Durante o evento, empresas de pesca norueguesas solicitaram explicitamente permissão para caçar baleias-francas no litoral sul do Brasil — um claro exemplo da distância entre discurso e prática. Nossa resposta foi não.
Em vez de aceitar esmolas internacionais, deveríamos seguir o exemplo da própria Noruega: explorar nossos recursos naturais de forma estratégica e usar essa riqueza para transformar o país. Mas, ao contrário deles, sem caçar baleias.
A vizinha Guiana demonstra o impacto positivo da exploração petrolífera. Com reservas estimadas em 11 bilhões de barris, o país viu sua economia crescer impressionantes 40% ao ano, saindo da pobreza para se tornar um dos países mais dinâmicos da América Latina. O Brasil poderia seguir esse caminho, investindo na infraestrutura humana e material do Norte e Nordeste, as regiões que mais precisam. Apenas um campo petrolífero de médio porte pode gerar mais de US$ 50 bilhões em royalties e impostos ao longo de sua vida útil — dinheiro que poderia ser investido em educação, saúde, infraestrutura e energia verde.
Além dos benefícios econômicos, há uma questão de segurança geopolítica. A instabilidade no Oriente Médio, na Europa, na Ásia Central e na Venezuela reforça a necessidade de garantirmos nossa soberania energética — e, consequentemente, a do Ocidente. O Brasil já possui uma matriz predominantemente renovável e pode continuar sendo a maior referência global, sem abrir mão do petróleo neste momento. Nossa conta fecha — o que não acontece com os países que mais nos criticam.
A hora é agora. Não haverá um “talvez depois” nessa história. A transição energética já está em curso, e a maior prova de que o ciclo do petróleo se aproxima do fim vem dos próprios gigantes do setor. Emirados Árabes e Arábia Saudita, que construíram sua riqueza com o petróleo, estão investindo centenas de bilhões de dólares em turismo, cultura, logística e novas economias para garantir sua reconversão econômica.
O Brasil deveria fazer o mesmo. O momento de agir é agora, garantindo que essa última grande fronteira petrolífera seja explorada com responsabilidade e convertida em desenvolvimento sustentável para a nação. Já passou da hora de abandonarmos uma certa pretensa superioridade moral do ativismo que não condiz com a realidade de nossas desigualdades e o sofrimento e a carência de milhões de brasileiros.
A maior preocupação do grande antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, amante do Brasil, que escreveu Tristes Trópicos em 1955, era de que “o Brasil envelhecesse sem ter amadurecido”, o que disse no início dos anos dois mil. Passou da hora de comprovar que não somos mais um país eterno adolescente. Um país maduro pensaria diferente. Pensaria nos seus próprios interesses, com responsabilidade e amor ao seu povo em primeiro lugar. Deveríamos tratar de assuntos sérios como esse no lugar de discussões histriônicas do poder pelo poder, que ocupam a mente do país. O Brasil tem condições e razões justas para fazer o que precisa ser feito no campo da energia e do meio ambiente. Assim agiríamos sob a grande responsabilidade e status de nação que já é a maior exportadora de alimentos do planeta. ** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG