
A Selic é a mais alta em quase 10 anos – e isso tem impacto direto na vida das empresas e das famílias. A taxa básica de juros se reflete nas taxas de juros de empréstimos, cartões de crédito e financiamentos, incluindo os de carros. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira (20) que o nível atual da taxa de juros é momentâneo. A Selic atingiu o patamar mais alto em quase 10 anos – e isso tem impacto direto na vida das famílias e das empresas.
Foi quase uma daquelas decisões de Réveillon.
“Eu entrei esse ano decidida a trocar meu carro”, conta a publicitária Claudia Marin.
Que se desmancharam logo depois do carnaval:
“Fiquei de boca aberta a hora que eu comecei a receber e eu vi o tamanho da parcela, o tamanho do valor que eu ia ter que colocar mensalmente”, diz.
E a Claudia decidiu que, por hora, vai continuar com o mesmo carro. Os planos da Claudia foram atrapalhados pelo aumento da taxa Selic. Isso porque a taxa básica de juros se reflete nos juros do cartão de crédito, dos empréstimos, dos financiamentos – incluindo os de carros. E a taxa média para financiamento de veículos está subindo desde setembro de 2024. E de acordo com os últimos dados do Banco Central, chegou a 29,5% ao ano.
Haddad diz que o nível atual da taxa de juros é momentâneo
Jornal Nacional/ Reprodução
O atual ciclo de alta da Selic começou em setembro de 2024, quando a taxa estava em 10,5% ao ano. Nas três últimas reuniões, o Copom elevou a taxa em um ponto percentual – chegando agora a 14,25% ao ano – o maior patamar desde 2016. Os juros são o instrumento do Banco Central para combater o aumento de preços. A inflação em 12 meses está acima do limite de tolerância, que é de 4,5%.
O economista Felipe Salto diz que a situação fiscal do governo pesou na decisão do Copom:
“A questão fiscal continua a ser uma espécie de fiel da balança porque o governo, ao mesmo tempo em que reforça o compromisso com a responsabilidade fiscal, anunciou, por exemplo, a medida do imposto de renda que parece respeitar os princípios da neutralidade, ele também não conseguiu avançar de maneira mais intensa no ajuste de gastos públicos”, afirma Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos.
Além disso, o cenário internacional preocupa:
“Estados Unidos, particularmente, o que vai acontecer na economia americana com a nova política econômica em curso naquele país, se a taxa de juros por lá vai voltar a diminuir, o que também pode influenciar as decisões futuras do Copom”, diz Felipe Salto.
Haddad diz que o nível atual da taxa de juros é momentâneo
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Nesta quinta-feira (20) pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, não iria dar um cavalo de pau na política monetária. À tarde, em entrevista ao GloboNews Mais, Haddad foi indagado sobre as declarações.
“Não esperávamos um cavalo de pau do Galípolo. Ele tem o compromisso com a coerência das medidas do Banco Central para cumprir o seu mandato, qual seja trazer a inflação para a meta. Esse é o compromisso do Galípolo. O impulso fiscal se deveu particularmente ao fato de que nós pagamos todo o calote de precatórios do governo anterior, foram quase R$ 100 bilhões. Então houve, em 2023, um impulso fiscal. Isso não aconteceu em 2024. Isso é o FMI que disse e é o próprio Banco Central que disse, porque é ele que apura o resultado primário do país”, disse Fernando Haddad.
O Comitê de Política Monetária é composto pelos diretores e pelo presidente do Banco Central. Na quarta-feira (19), todos votaram pelo aumento de um ponto percentual na taxa básica de juros. Sete dos nove integrantes atuais foram indicados pelo presidente Lula – incluindo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Dois diretores indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro têm mandato até o fim de 2025.
O ministro afirmou, ainda, que o atual nível de juros é momentâneo:
“Essa Selic é momentânea, para corrigir um problema inflacionário que tem razões domésticas, mas tem razões externas também. Nós estamos com uma taxa de juro agora de quanto? 8 a 9% acima da inflação. Acha que vai precisar de uma taxa dessa? A não ser que você queira asfixiar a economia, acabar com a economia. E não é esse o horizonte que está colocado”, afirmou Fernando Haddad.
A professora de finanças da FGV Claudia Yoshinaga diz que a alta de juros é importante neste momento:
“É desagradável elevar essa taxa porque tem todas essas implicações em termos de custo do crédito para empresas, para pessoas físicas. Mas, por outro lado, espera-se que com isso consiga controlar a inflação, manter o recurso do investidor estrangeiro no Brasil, estabilizar essa economia para depois, talvez, a gente perceber aí uma toada de queda dessa taxa de juros e a economia entrar nos eixos de novo”.
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