
A importância dos satélites no espaço é inegável — da comunicação global à previsão do tempo, eles moldam nosso mundo. No entanto, essa dependência tem um preço: uma avalanche de lixo espacial que, combinada com os efeitos do aquecimento global, ameaça o futuro da exploração espacial e a segurança das redes.

Os satélites no espaço tem um papel muito importante, no entanto essa dependência tem um preço – Foto: Canva/ND
Isso foi indicado por pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que investigaram como o aumento da emissão de gases de efeito estufa pode impactar a atmosfera terrestre nas próximas décadas. O estudo alerta para riscos crescentes relacionados à segurança dos satélites em órbita baixa (LEO, na sigla em inglês), com possíveis impactos negativos na exploração espacial e na comunicação global.
Aumento de satélites no espaço e o risco do efeito Kessler
Atualmente, a órbita terrestre abriga cerca de 10 mil satélites ativos, sendo que mais da metade foi lançada nos últimos cinco anos. Esse número cresce rapidamente, impulsionando por projetos de megaconstelações, como o Starlink da SpaceX.
O problema se agrava com os detritos espaciais: estima-se que haja aproximadamente 40 mil fragmentos maiores que 10 cm em órbita, resultado de colisões e foguetes descartados. Esse cenário pode desencadear o chamado efeito Kessler, um fenômeno no qual o aumento de colisões gera mais detritos, tornando o espaço próximo da Terra intransitável.

Existem cerca de 10 mil satélites no espaço ativos – Foto: Divulgação/LeoLabs/ND
Como o aquecimento global afeta os satélites no espaço?
Os satélites em órbita baixa operam entre 200 km e 2 mil km de altitude, onde se encontra a termosfera. Essa camada da atmosfera tem um papel essencial na regulação do tempo de vida dos satélites: o arrasto atmosférico faz com que objetos desativados percam altitude e queimem ao reentrar na atmosfera, um processo de “autolimpeza” da órbita terrestre.
No entanto, o estudo do MIT revela que o aquecimento global está reduzindo a densidade da termosfera, diminuindo o arrasto atmosférico e prolongando a permanência de satélites desativados no espaço.
De acordo com as simulações feitas pelo MIT, até 2100 a capacidade da termosfera de reter e processar satélites pode diminuir entre 50% e 66% nas regiões mais congestionadas da órbita baixa. Isso significa que mais satélites inativos e detritos espaciais permanecerão em órbita por longos períodos, aumentando o risco de colisões.
Satélites no espaço: dioxido de carbono e o resfriamento da termosfera
Ao contrário do que ocorre na troposfera, onde o aumento do CO₂ causa aquecimento, nas camadas superiores da atmosfera o efeito é o oposto. O dióxido de carbono contribui para o resfriamento da termosfera, fazendo com que ela se contraia e reduza sua densidade.
Estudos anteriores, como o publicado no Journal of Geophysical Research, já indicavam que a termosfera tem encolhido de forma consistente desde o início da era espacial, um efeito agora intensificado pela atividade humana.

Satélites no espaço: o dióxido de carbono contribui para o resfriamento da termosfera, fazendo com que ela se contraia e reduza sua densidade – Foto: Canva/ND
Consequências para o futuro da exploração espacial
Com uma menor “capacidade de limpeza” da órbita baixa, as estratégias atuais de gestão de satélites precisarão ser revistas. Empresas como a SpaceX e a OneWeb projetam suas constelações para que satélites desativados reentrem na atmosfera naturalmente, mas com a redução do arrasto atmosférico, esse processo pode levar muito mais tempo. Isso aumenta a necessidade de soluções ativas para remoção de detritos, como tecnologias de captura e deorbita controlada.
Segundo William Parker, do Departamento de Aeronáutica e Astronáutica do MIT, “literalmente, o céu está caindo sobre nossas cabeças, mas em uma escala de décadas”. O impacto dessas mudanças atmosféricas na segurança espacial exige respostas rápidas para evitar um futuro onde a órbita baixa da Terra se torne um campo minado de destroços incontroláveis.