A praia de Juiz de Fora: Rio Paraibuna já foi ‘point’ da diversão na cidade com pescaria, clube de natação e até lancha


No Dia Mundial da Água, o g1 conta a história do rio que corta a cidade e foi referência em lazer a céu aberto antes de se tornar poluído e impróprio para qualquer atividade. ‘Praia’ às margens do Rio Paraibuna em Chapéu D’Uvas na década de 1960 em Juiz de Fora
Acervo Vanderlei Dornelas Tomaz/Reprodução
“Nós esquecemos que o ciclo da água e o ciclo da vida são, na verdade, um só”, já dizia o oceanógrafo Jacques-Yves Cousteau. Por isso, cuidar da água é preservar a vida. É nesse espírito que se comemora, neste 22 de março, o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992.
Em Juiz de Fora, o principal rio do município está em processo de despoluição. O g1 conta a história da formação do Paraibuna, a relação com a criação da cidade e como foi um ‘point’ de diversão no passado, com a ‘prainha’ formada no distrito de Chapéu D’Uvas, antes de se tornar uma represa.
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Formação
Foto extraída do álbum do município de Juiz de Fora, de Albino de Oliveira Esteves, de 1915
Blog Mauricio Resgatando o Passado/Reprodução do Acervo Mauricio Lima Corrêa
O rio recebeu a denominação dos índios Caxinoás, que viveram nesta região e o chamaram de ‘Parayuna’ devido às águas escuras, causadas pelas rochas do fundo, que apresentam formações de granito.
A bacia do Paraibuna é formada por três rios principais:
Paraibuna;
Kágado;
Peixe.
O Paraibuna nasce na Serra da Mantiqueira, a 1.200 m de altitude, e, após percorrer 166 km, deságua na margem esquerda do Rio Paraíba do Sul, a 250 m de altitude.
Ao todo, o rio percorre nove cidades: Antônio Carlos, Santos Dumont, Ewbank da Câmara, Matias Barbosa, Simão Pereira, Belmiro Braga, Santana do Deserto, Chiador e Juiz de Fora.
De vila a cidade, ligada pelo Paraibuna
O professor e engenheiro civil da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Cézar Henrique Barra Rocha, explicou que as estradas que iniciaram a colonização e o desenvolvimento de Minas Gerais e da Zona da Mata mineira foram abertas ao longo do Rio Paraibuna.
A cidade de Juiz de Fora surgiu às margens do Caminho Novo, traçado por Garcia Paes para encurtar a distância entre o porto do Rio de Janeiro e a região das minas, na época da corrida do ouro.
Preocupado com os ladrões que fugiam da cobrança portuguesa, em 1703, o rei de Portugal encarregou o sertanista Garcia Paes de fazer um caminho no meio da serra, ligando as minas ao Rio de Janeiro.
Este novo trajeto denominou-se ‘Caminho Novo’, que seguia a margem esquerda do Rio Paraibuna, afastando-se do rio apenas para desviar das grandes montanhas, por onde passariam tropas carregadas de ouro e diamantes extraídos das minas. A viagem de Minas Gerais para o Rio de Janeiro levava, na época, no mínimo, doze dias.
O caminho novo era uma rota comercial, econômica e estratégica. Em sua volta surgiram os primeiros povoamentos, como Santo Antônio do Paraibuna (Juiz de Fora), Borda do Campo (Barbacena) e João Gomes (Santos Dumont).
Nesta época, o Império passou a distribuir terras na região para pessoas de origem nobre, denominadas sesmarias, facilitando o povoamento e a formação de fazendas que, mais tarde, se especializariam na produção de café.
A partir de 1836, o governo da província atribuiu ao engenheiro Fernando Henrique Guilherme Halfeld a função de construir um novo acesso entre os dois estados, chamado estrada de rodagem do Paraibuna.
A estrada do Paraibuna deu origem à rua principal, atual Avenida Rio Branco. Em 1850, os fazendeiros começaram a ocupar as imediações da avenida, onde se formou um comércio forte.
Em 1853, a Vila de Santo Antônio do Paraibuna foi elevada à categoria de cidade e, em 1865, passou a se chamar cidade de Juiz de Fora.
Foi através do Vale do Rio Paraibuna, principalmente entre Juiz de Fora e Rio de Janeiro, que foi construída a primeira ferrovia ligando o litoral ao interior, a Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB).
Além da ferrovia, no vale foi construída a primeira estrada totalmente calçada do Brasil, por iniciativa de Mariano Procópio Ferreira Lage. A União Indústria, inaugurada em 1861, ligava Juiz de Fora a Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro.
Antes da poluição
Clube Noronha de Natação que funcionava às margens do Rio Paraibuna, sob a ponte Arthur Bernardes, na Rua Halfeld
Blog Mauricio Resgatando o Passado/Reprodução
O vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica dos Rios Preto e Paraibuna, Wilson Acácio, disse que as águas do rio eram limpas, proporcionando a natação para a população, principalmente para os moradores ao longo do leito.
“Registra-se que, em 1930, havia o Clube de Natação João Noronha, onde os atletas disputavam campeonatos, inclusive regionais, nas águas do Paraibuna. Ainda na década de 1960, quando Chapéu D’Uvas era um distrito e não a represa, havia uma prainha e, principalmente aos domingos, muitas pessoas do centro e de diversos bairros pegavam o trem Xangai e iam passar o domingo neste local”, contou.
O Paraibuna também foi navegável na década de 1910, do Centro da cidade até o Bairro Benfica. Segundo Wilson, a família de Abel de Montreuil inaugurou um serviço de lancha a motor para passageiros no trecho de Benfica até a Ponte da Rua Halfeld, em 1914.
Rio Paraibuna já foi ‘point’ de diversão em Juiz de Fora
Devido à qualidade das águas, o rio tinha muitos peixes. “Na década 1960 havia um campeonato de pesca no Bairro Barbosa Lage, que atraia pescadores de diversas cidades do entorno de Juiz de Fora”, contou.
No entanto, tudo isso mudou com o crescimento da cidade e o desenvolvimento da indústria, que deixou o rio impróprio para todas as atividades.
Águas do Rio Paraibuna sofrem com seca e poluição em Juiz de Fora
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