
Após os piscicultores vizinhos de Ubarana terem prejuízo de R$ 1 milhão, os piscicultores de Zacarias (SP) começaram uma retirada dos peixes dos tanques antes do previsto. Piscicultores de Zacarias temem perda de produção após mortes de peixes no Rio Tietê
Piscicultores da cidade de Zacarias (SP) iniciaram, neste sábado (22), uma missão de emergência para retirar os peixes dos tanques, após vizinhos de Ubarana (SP) sofrerem um prejuízo de R$ 1 milhão com a mortandade dos animais. O problema começou na terça-feira (18), quando a cor do Ribeirão Fartura, braço do Rio Tietê, mudou devido à falta de oxigênio.
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Segundo o piscicultor Rômulo Cury, o medo de que aconteça o mesmo em Zacarias é proporcional ao tamanho da produção de peixes na cidade.
“São amigos nossos, vizinhos nossos que perderam toda a produção voltada para a Quaresma. É uma produção muito grande e estamos tentando não passar por isso novamente. Estamos em uma missão de urgência, pois não sabemos se vai amanhecer com os peixes vivos na água”, explica.
Rômulo Cury é um dos piscicultores em Zacarias (SP)
Reprodução/TV TEM
O diretor da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (Peixe SP), Emerson Esteves, destacou a importância de Zacarias como uma das principais fornecedoras de tilápia do estado de São Paulo.
“É o segundo maior polo produtor de tilápia em tanque-rede no estado. Então, o impacto que ocorre hoje é enorme para a atividade e para o mercado. É uma situação preocupante para todos nós. Trabalhamos muito para o momento da Quaresma, e acontecer o que aconteceu é inaceitável”, revela.
Além disso, o diretor relata que alguns produtores já interromperam a atividade de cultivo de tilápias. “Já pararam, desistiram. E não é um fenômeno recente, são vários anos enfrentando dificuldades. Há produtores que sofreram perdas no passado e já desistiram, outros tiveram prejuízos nos últimos 30 a 40 dias, mas essa mortandade mais recente afetou diversas pisciculturas da região”, explica.
Diante dos impactos, o diretor alerta: “Zacarias deve ser afetada a ponto de tornar inviável a continuidade das atividades de piscicultura”.
Tanques de rede em Zacarias (SP)
Reprodução/TV TEM
Mais de 30 toneladas descartadas
Dois piscicultores de Ubarana, sendo um com 28 tanques de aproximadamente 25 toneladas de peixes e outro com 11 tanques com oito toneladas de tilápia, tiveram que descartar a produção.
Além disso, no dia 14 de março, a prefeitura emitiu um alerta para os turistas evitarem entrar na água, classificada como imprópria para banho.
Mais de 30 toneladas de peixes mortos são retirados por piscicultores do Rio Tietê em Ubarana (SP)
Rogério Pedrozo/TV TEM
Somadas, as perdas dos piscicultores chegam a R$ 1 milhão. Por isso, os pescadores temem o desemprego, em especial durante a Quaresma, período em que a venda dos pescados aumenta devido à dieta restrita de carnes vermelhas dos católicos.
Peixes aparecem mortos às margens do Rio Tietê em Ubarana (SP)
Rogério Pedrozo/TV TEM
Cetesb monitora qualidade da água
Em nota, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) disse que fez inspeções no Rio Tietê para monitorar a qualidade da água e fiscalizar possíveis fontes de poluição, após a constatação de mortandade de peixes. Amostras foram coletadas e encaminhadas para análise.
Responsável pelo monitoramento, licenciamento e fiscalização ambiental, a Cetesb tem intensificado as ações onde há avanço da eutrofização (processo de enriquecimento de corpos de água com nutrientes como fósforo e nitrogênio).
Segundo a companhia, entre 2021 e 2025, foram realizadas 926 inspeções na região, com aplicação de 80 penalidades a empreendimentos que descumpriram normas ambientais.
Ainda conforme a Cetesb, o que se observa é o fenômeno de reprodução de algas que, em quantidade suficiente, pode provocar o esverdeamento da água do rio.
De acordo com a professora de química e ciências biológicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Maria Stela Castilho, as plantas aquáticas invadem o rio por se reproduzirem de forma rápida devido ao aumento de nutrientes, que servem de “alimento” para elas.
Esses nutrientes são provenientes, conforme ela explicou, do esgoto doméstico ou industrial, vinhaça – resíduo da destilação do caldo de cana-de-açúcar -, e de fertilizantes aplicados nas lavouras.
Os aguapés afetam o oxigênio das águas e criam condições inadequadas para os peixes, o que pode causar a mortandade destes animais. A proliferação intensa dificulta também a navegação.
Piscicultores encontram cerca de 30 toneladas de peixes mortos em Ubarana (SP)
Eduardo Monteiro/TV TEM
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