Sono desregulado atinge 83% dos adolescentes; veja como melhorar

Uso excessivo de telas é um dos agravantes do problema, que tende a afetar mais as meninasReprodução

Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) traz dados alarmantes sobre o sono dos adolescentes brasileiros; quase 84% apresentam jet lag social, ou seja, sofrem com desalinhamento entre o relógio biológico e a rotina de compromissos e responsabilidades sociais, como horários escolares ou de trabalho.

Ao contrário da insônia, na qual a pessoa não consegue dormir, quem sofre com o jet lag social sente sono, mas no horário errado, o que pode acarretar sérias consequências para a saúde física e mental.

Entre os fatores que estão provocando o sono desregulado de tantos jovens brasileiros, estão as aulas no turno da manhã e adoção de comportamentos de risco não saudáveis, entre eles o uso excessivo de telas.

Coordenado pela nutricionista Nina Nayara Martins, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares da UFRGS, o estudo avaliou 64.029 adolescentes de ambos os sexos, com idade entre 12 e 17 anos, participantes do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), projeto coordenado no Rio Grande do Sul pela professora Beatriz D’Agord Schaan, que é um dos maiores estudos sobre a saúde de adolescentes no Brasil.

Meninas são mais afetadas

A conclusão é que o jet lag social afeta 83,6% dos adolescentes brasileiros, com maior prevalência entre meninas na faixa etária de 16 e 17 anos, de cor da pele branca, que frequentam escolas particulares e que têm aulas pela manhã.

A coordenadora da pesquisa, Nina Nayara MartinsReprodução

Para a coordenadora do estudo, o fato das meninas serem mais afetadas é uma questão bem interessante e um dos pontos sobre o qual não se encontra uniformidade na literatura.

“Outros estudos apontaram resultados divergentes nessa questão. Nossa hipótese principal é que alguns estudos sugerem que as meninas apresentam maior propensão aos efeitos do desequilíbrio do funcionamento do corpo quando expostas aos jetlag social, principalmente por conta das mudanças hormonais e fisiológicas devido ao amadurecimento”, afirma a professora Nina Martins, em entrevista ao iG.

Além disso, comportamentos de risco não saudáveis, como pular o café da manhã, consumir álcool e aumentar o tempo de tela estão associados a uma maior prevalência de jet lag social.

O estudo mostra ainda que há uma relação entre o jet lag social e riscos cardiovasculares, como obesidade e alterações metabólicas. Há também relação com adolescentes mais ativos fisicamente.

Atividade física à noite

“Pode parecer um paradoxo, mas, na realidade, não são situações excludentes. O corpo humano tende a liberar hormônios, como o cortisol, na prática de atividade física, o que aumenta o estado de alerta. Se o adolescente praticar um esporte ou outra atividade no período noturno, ainda pode levar tempo para redução desses níveis, o que vai retardar o início do sono”, explica a pesquisadora. “Também não deve ser excluída a hipótese de consumo de estimulantes ou exposição às telas após esse retorno da prática esportiva, que também pode retardar a hora de dormir”, acrescenta.

Como combater o problema

Para mitigar os efeitos do jet lag social, o estudo sugere mudanças estruturais no sistema educacional, como a possibilidade de um início mais tardio das aulas, alinhando os horários escolares ao relógio biológico dos adolescentes. Estudos internacionais indicam que atrasar o início das aulas pode melhorar a concentração e o aprendizado.

Jet lag social; aulas no período matutino agravam problemaReprodução

“O jet lag social é um problema complexo e global. As soluções vão de esferas governamentais até hábitos individuais. No caso dos adolescentes, um atraso de meia hora no turno escolar da manhã já ajudaria a reduzir esses números”, avalia Nina.

A pesquisadora enfatiza ainda que a mudança de hábitos deve começar dentro de casa, com o exemplo dos pais, e também destaca a importância de uma abordagem multidisciplinar no combate ao problema, envolvendo médicos, nutricionistas, psicólogos e profissionais da educação física para auxiliar na construção de uma rotina mais saudável para os jovens.

 

 

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