
Cinco fases, 50 presos, incluindo 17 prefeitos e três vices. A Operação Mensageiro, que investiga o maior esquema de corrupção da história do poder público de Santa Catarina, trouxe à tona uma realidade que era pouco conhecida no estado: o desvio sistemático de verbas milionárias em prefeituras. Dois anos, três meses e 25 dias depois, a população das cidades investigadas colhe o legado da investigação.

Contratos de limpeza urbana foram alvos da Mensageiro – Foto: Imagem gerada por IA/ND
A Operação Mensageiro investiga os crimes de superfaturamento de serviços de coleta e destinação de lixo, além do pagamento de propina a agentes públicos em troca de facilitação em licitações. Ainda em andamento, os processos da operação tramitam no TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina).
Os primeiros fatos que deram origem à investigação foram revelados em 2021, durante a Operação Et Pater Filium, que apurou outro grande esquema de corrupção no Planalto Norte catarinense. Dentre eles, fraudes a licitações e recebimento de propina proveniente do Grupo Serrana Engenharia, que também atuava em outras cidades catarinenses.
Mensageiro em 4 minutos
Entenda a Operação Mensageiro – Vídeo: Divulgação/ND
O Grupo Serrana, que mudou seu nome para Versa Engenharia Ambiental após o início da operação, atua nos setores de coleta e destinação de lixo, de abastecimento de água e de iluminação pública em diversas regiões de Santa Catarina e em outros estados do país. A partir das investigações dos contratos com a Serrana, chegou-se às prefeituras suspeitas de participarem das irregularidades, iniciando-se a Operação Mensageiro
O nome da operação deriva de um empresário, um dos primeiros presos. Segundo a investigação, ele atuava com o codinome “mensageiro” e seria o responsável por entregar a propina da empresa Serrana Engenharia aos agentes públicos envolvidos. As investigações apontam que o esquema começou em 2014.
- Nota da redação: por decisão judicial, o nome do “mensageiro” não pode ser divulgado.
A operação é conduzida pelo MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), através do Geac (Grupo Especial Anticorrupção) e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), com apoio da Polícia Científica.
Os números da Operação Mensageiro

Números da Operação Mensageiro até março de 2025 – Foto: Arte/ND
Os prefeitos presos
- Deyvisonn da Silva de Souza – Prefeito de Pescaria Brava (MDB)
- Luiz Henrique Saliba – Prefeito de Papanduva (PP)
- Antônio Rodrigues – Prefeito de Balneário Barra do Sul (PP)
- Marlon Neuber – Prefeito de Itapoá (PL)
- Vicente Corrêa Costa – Prefeito de Capivari de Baixo (PL)
- Antônio Ceron – Prefeito de Lages (PSD)
- Joares Ponticelli – Prefeito de Tubarão (PP)
- Luiz Carlos Tamanini – Prefeito de Corupá (MDB)
- Adriano Poffo – Prefeito de Ibirama (MDB)
- Adilson Lisczkovski – Prefeito de Major Vieira (Patriota)
- Armindo Sesar Tassi – Prefeito de Massaranduba (MDB)
- Patrick Corrêa – Prefeito de Imaruí (Republicanos)
- Luiz Shimoguiri – Prefeito de Três Barras (PSD)
- Alfredo Cezar Dreher – Prefeito de Bela Vista do Toldo (Podemos)
- Felipe Voigt – Prefeito de Schroeder (MDB)
- Luís Antônio Chiodini – Prefeito de Guaramirim (PP)
- Clézio José Fortunato – Prefeito de São João do Itaperiú (MDB)
As fases da Operação Mensageiro
Primeira fase (6 de dezembro de 2022):
- 4 prefeitos presos
- 1 vice-prefeito preso
Segunda fase (2 de fevereiro de 2023):
- 2 prefeitos presos
Terceira fase (14 de fevereiro de 2023):
- 1 prefeito preso
- 1 vice-prefeito preso
Quarta fase (27 de abril de 2023):
- 9 prefeitos presos
Quinta fase (29 de abril de 2024):
- 1 prefeito preso
- 1 vice-prefeito preso
Veja os presos em cada fase da Operação Mensageiro
O retorno do dinheiro que foi para a corrupção
Segundo o MPSC, os municípios lesados receberão o valor total de indenização pelos danos sofridos, acrescido do ressarcmento pelo dano extrapatrimonial. O montante é fixado pelas decisões condenatórias, com a maioria delas ainda em andamento.
Das cinco condenações feitas até o momento, os valores já ressarcidos chegam a quase R$ 4,5 milhões. Ainda, os agentes públicos e privados que fizeram colaboração premiada na Operação Mensageiro comprometeram-se a ressarcir integralmente o dano patrimonial causado aos municípios, além de um valor extra para reparar o dano extrapatrimonial.
O MPSC informou que, como há parte da investigação em curso, o valor total assegurado ainda não pode ser divulgado. No entanto, o órgão garantiu que alguns delatores já pagaram e outros estão pagando de forma parcelada. O montante já depositado por eles ultrapassa R$ 11,3 milhões, que deverão ser devolvidos aos municípios.

Fábio Trajano, procurador-geral do MPSC – Foto: MPSC/ND
Para o procurador-geral de Justiça, Fábio de Souza Trajano, que chefia o MPSC, a descoberta de um esquema de corrupção que existia há mais de dez anos trouxe “prejuízos incalculáveis” para a população catarinense. Contudo, a Mensageiro mostrou que há punição para a corrupção.
“Mas também resultou em consequências para os integrantes da organização criminosa, como a exposição pública, prisões preventivas e condenações judiciais. Isso demonstra que houve punição para os malfeitos, algo raro em nosso país”, avalia Trajano ao ND Mais.
Alinhamento com instituições
O procurador-geral também destaca que a Operação Mensageiro fortaleceu a relação entre as instituições que trabalham nas investigações. Além do próprio MPSC, o GEAC, o GAECO, a Polícia Científica e o Poder Judiciário têm atuação.
“O Ministério Público, como órgão de Estado autônomo e independente, liderou esse processo, fornecendo todas as condições materiais para o funcionamento da força-tarefa. No entanto, é importante ressaltar que apenas com a cooperação interinstitucional foi possível alcançar tantos resultados positivos”, destaca.
Com a Mensageiro, para Trajano, o combate à corrupção deve ser tratado como “uma verdadeira política de Estado”, aplicando a legislação penal também aos criminosos de colarinho branco.
“Não podemos aceitar como natural a utilização de mandato popular para enriquecimento ilícito, nem que empresários obtenham lucros elevando artificialmente os preços ou deixando de prestar o serviço contratado, afastando da licitação empreendedores honestos que não participam deste jogo espúrio”, dispara.
Como a Operação Mensageiro mudou a fiscalização de contratos das prefeituras?
Ao todo, 19 cidades foram investigadas nas cinco fases da Operação Mensageiro. Um levantamento exclusivo do ND Mais mostra o impacto da investigação na fiscalização de contratos de limpeza urbana nas cidades.
Dois anos depois da primeira fase, a Mensageiro mostra que houve a transformação na maneira como as prefeituras lidam com os contratos de licitações. Abaixo, veja o que cada uma disse.

Balneário Barra do Sul – Foto: Eduardo Valente/Secom-SC/ND
Balneário Barra do Sul
- A prefeitura de Balneário Barra do Sul informou, por meio de nota, que a administração tem trabalhado para “para melhorar os processos de controle interno, buscando implementar ações fiscalizatória por meios de grupos”. Segundo a prefeitura, foi realizado um aumento no número de funcionário no departamento de controle interno, com foco em desafogar o montante de trabalho.
Canoinhas
- A prefeitura afirmou que houve ampliação nos fiscais de contrato e que também conta com um engenheiro com Responsabilidade Técnica na equipe. Além disso, foi contratada uma empresa que realizou um estudo sobre a viabilidade da coleta de resíduos sólidos, que constatou que o serviço deve ser realizado via contrato de concessão. O resultado será apresentado ao MPSC e ao TCE (Tribunal de Contas do Estado), segundo a gestão municipal.
Capivari de Baixo
- A administração relatou que foram reforçados os mecanismos de auditoria interna, intensificada a fiscalização in loco e exigida a exigência de relatórios detalhados sobre a prestação dos serviços. “A gestão introduziu protocolos mais rígidos para a comprovação da execução contratual, garantindo o cumprimento das obrigações e a qualidade dos serviços prestados”, afirmou.

Guaramirim – Foto: Divulgação/ND
Guaramirim
- A prefeitura de Guaramirim informou que, após a Operação Mensageiro, o contrato de coleta de lixo passou a ser gerido pelo Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí. Segundo a administração do município, esse modelo auxilia na “realização de auditorias, na elaboração de relatórios e no acompanhamento da execução do contrato”.
Ibirama
- Também aderiu ao Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí para os serviços de coleta de resíduos sólidos urbanos. Um canal de denúncia foi criado, via WhatsApp, para que a população possa “relatar problemas na execução dos trabalhos, permitindo uma fiscalização mais ampla e colaborativa”.
Imaruí
- O procurador-geral do município, Júlio César Assis, afirmou que a administração implementa medidas para garantir maior transparência e eficiência na execução contratual. “Os mecanismos já existentes previstos na lei de licitações são rigorosamente cumpridos, havendo capacitação e treinamento nos setores, para um melhor controle”, declarou.

Itapoá – Foto: Prefeitura de Itapoá/Divulgação ND
Itapoá
- Uma das principais mudanças decorrentes da Operação Mensageiro foi a substituição do modelo de concessão, com vigência de 30 anos, por um novo contrato com prazo de 12 meses. O contrato prevê renovação ou rescisão, caso a empresa não cumpra as exigências estabelecidas na licitação e no contrato.
Major Vieira
- Os serviços de coleta de resíduos urbanos foram assumidos pela prefeitura, com caminhão e pessoal próprio, sob supervisão da secretaria de Agricultura e Meio Ambiente em conjunto com pessoal da Secretaria de Obras.
Massaranduba
A prefeitura de Massaranduba declarou que, por se tratar de uma nova gestão, não tem conhecimento aprofundado sobre o que ocorreu na investigação e que precisa “estudar e entender melhor a situação”.
Papanduva
- Segundo a prefeitura de Papanduva, a nova gestão que assumiu em janeiro deste ano identificou possíveis falhas de fiscalização na coleta de lixo. A empresa responsável pelo serviço foi notificada sobre a necessidade de passar pela balança de pesagem de caminhões do município.
- “Eles realizam a pesagem do caminhão antes da coleta do lixo e, ao final, voltam para pesar novamente, a fim de registrar o peso do que realmente foi coletado. No final do mês, a empresa envia um relatório de controle com as pesagens do aterro sanitário e fazemos uma comparação com os dados registrados no município”, afirmou em nota.

Pescaria Brava – Foto: Redes sociais
Pescaria Brava
- O prefeito de Pescaria Brava, Henrique Castro, informou que após a Operação Mensageiro os contratos da administração pública passaram a ser fiscalizados com maior rigor.
- “Em relação à fiscalização, a cidade tem uma fiscal do contrato, que é uma engenheira. Ela tem atribuição de fiscalizar, manter o zelo à transparência e o destino daquilo que é encaminhado aterro sanitário [do próprio município]”, declarou Castro.
São João do Itaperiú
- Após os desdobramentos da Operação Mensageiro, foram retiradas cláusulas do edital que geravam um direcionamento para a empresa que foi objeto da investigação. A fiscalização passou a ser feita por um servidor municipal, que acompanha em todo o trajeto a empresa que presta o serviço.
Schroeder
- A administração municipal declarou que realizou uma alteração contratual que diminuiu o valor repassado para a empresa responsável pelo serviço. Em seguida, na renovação do contrato, foi observado que, com as alterações realizadas, o contrato teve uma diminuição de R$ 600 mil.
- Além disso, em setembro de 2023, cinco meses após a prisão do prefeito Felipe Voigt, foi aprovada a Lei Municipal nº 2.676/2023, que “instituiu a política municipal de transparência e de prevenção a corrupção, criando diretrizes para o serviço público municipal”.
Três Barras
- Realizou a convocação do controlador interno que havia sido aprovado em concurso público, o qual é responsável por “criar protocolos de governança e compliance”.
- “Todos os contratos possuem um gestor e fiscais, responsáveis por acompanhar todos os atos relacionados a execução contratual, em conformidade com a Lei n. 14.133/2021”, disse em nota.

Tubarão – Foto: Prefeitura de Tubarão/Divulgação
Tubarão
- A prefeitura de Tubarão disse que a nova gestão assumiu há menos de três meses e não comenta sobre contratos e processos administrativos de governos anteriores.
- “A administração tem adotado medidas para garantir processos licitatórios mais acessíveis e visíveis ao público”, declarou.
Porto Belo
- Após a Operação Mensageiro, foi contratado um estudo para analisar o que seria melhor para a prestação de serviços de água, que foram o alvo da ação do MPSC no município. O levantamento observou que o melhor é a instituição de uma autarquia.
- “Com a implementação da nova lei de licitações, os contratos são fiscalizados por servidores públicos efetivos, na grande maioria por técnicos, que ficam responsáveis pelos mesmos”, afirmou em nota.
Bela Vista do Toldo, Corupá e Lages
- As prefeituras de Bela Visto do Toldo, Corupá e Lages não responderam à reportagem até o momento. As administrações foram contatadas ao longo de três dias, mas não retornaram com um posicionamento. O espaço segue aberto.
O que significam as mudanças adotadas pelas prefeituras?
Entre as principais alterações geradas pela Operação Mensageiro nas administrações públicas de Santa Catarina, foram citadas pelas prefeituras, em sua ampla maioria:
- A revisão e cancelamento de contratos;
- O aumento na fiscalização; e
- A designação de profissionais específicos para controle dos serviços contratados.
Segundo Marina Atoji, diretora de programas da Transparência Brasil, organização da sociedade civil voltada ao combate à corrupção, essas atitudes dos municípios são bons primeiros passos, mas devem ser parte de um plano mais amplo.
“As medidas não devem ser algo que dependa de quem está à frente da gestão, e sim algo que perdure e funcione independentemente da liderança política da vez.” – Marina Atoji
Marina reitera que não é incomum, porém, que grandes mobilizações contra esquemas de corrupção não promovam mudanças significativas nas administrações
“Não é raro que municípios considerem que a operação e eventuais condenações tenham sido ‘caso pontual’, de responsabilidade única das pessoas envolvidas. Assim, deixam de aprimorar devidamente seus mecanismos de prevenção e detecção de irregularidades”, declara.
Municípios pequenos podem ter fiscalização mais frágil
Quanto aos municípios afetados pela Operação, apenas três não são considerados pequenos conforme a classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): Lages, Canoinhas e Tubarão, que passam dos 50 mil habitantes.

Marina Atoji, da Transparência Brasil – Foto: Divulgação/ND
De acordo com Marina, cidades pequenas geralmente tem condições mais frágeis para o controle do gasto público, o que, de certa forma, pode facilitar a formação de esquemas de desvio.
“Há problemas de transparência, a relação entre prefeitura e Câmaras Municipais é bastante próxima e alinhada, anulando o papel fiscalizador do Executivo. A gestão pública muitas vezes ganha contornos pessoais”, destaca.
Fiscalização vai além das gestões municipais
As mudanças que surgiram como desdobramentos da Operação Mensageiro ultrapassaram o âmbito das administrações municipais. O Tribunal de Contas de Santa Catarina também realizou aprimoramentos em seu modo de atuação a partir do modelo de corrupção descoberto pela investigação do MPSC.
Entre elas, a publicação da Nota Técnica N. TC-7/2023, que orienta boas práticas de licitação de serviços de limpeza pública, principalmente sobre a coleta e disposição final de resíduos urbanos.
Além disso, o TCE tem investido em tecnologia da informação, com ferramentas como o VigIA, sistema de inteligência artificial que avalia licitações lançadas por municípios e pelo governo estadual, passando de 60 mil por ano.
Daniel Moraes Pinheiro, professor da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina) e pesquisador da cultura política, ressalta que, além da fiscalização por parte das prefeituras e órgãos públicos, a sociedade deve ser parte do processo. Uma das formas, segundo o professor, é o acesso a serviços como o portal de transparência.
“Isso exige uma educação do cidadão, uma nova visão para que ele entenda que ele faz parte desse processo. Então, para que a corrupção não ocorra, não basta a prefeitura fazer algo. É preciso que a população faça isso [fiscalizar]”, destaca.
Como a Operação Mensageiro redesenhou a política no interior de SC?
Com prisão de 17 prefeitos e três vices, a Operação Mensageiro foi o tema de debates entre adversários nas eleições de 2024.
Segundo o professor e cientista político Eduardo Guerini, da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), apesar do esforço das investigações e do embaraço político causado, a operação não conseguiu provocar um efeito significativo de renovação nos quadros políticos das cidades envolvidas.
Presos que tentaram a sorte nas urnas
Jaime Antônio de Souza (PL)
- Ex-vice-prefeito de São João do Itaperiú, foi preso no final de abril de 2024 por envolvimento em um esquema de corrupção. Nas eleições do mesmo ano, concorreu ao cargo de prefeito da cidade, mas não foi eleito por uma diferença de apenas 23 votos.
Joares Ponticelli (PP)
- Em Tubarão, Ponticelli, ex-prefeito do município e preso durante a 3ª fase da operação Mensageiro, ficou apenas com a suplência de vereador, obtendo 919 votos nas urnas. Muito abaixo de 2020, quando foi eleito com 35.023 votos para seu segundo mandato de prefeito.
Patrick Correa (Republicanos)
- Já em Imaruí, outro efeito foi observado nas eleições. Patrick Correa foi eleito prefeito em 2020 com 1.814 votos. Em abril de 2023, ele foi preso na 4ª fase da Operação Mensageiro. Mesmo assim, conquistou a reeleição em 2024 com 4.378 votos, representando 55,76% dos votos válidos na cidade.
Para o professor da Udesc, casos de políticos investigados sendo eleitos não são incomuns. “Fenômenos como popularidade e proximidade com o eleitorado podem ofuscar casos de corrupção. A sociedade ainda não tem a cultura do combate à corrupção”, completa.
Para explicar casos como o de Imaruí, Guerini aponta que algumas cidades interioranas sofrem com a herança da governança de famílias dominantes na política local.
“A população não tem liberdade para escolher. Ela está vinculada aos interesses influenciados pelo poder econômico e pela lógica da dominância dos partidos tradicionais.” – Daniel Pinheiro
Presos não se candidataram, mas viraram cabos eleitorais
Além dos três que tentaram a sorte nas urnas, nenhum outro prefeito ou vice envolvido na Operação Mensageiro pleiteou cargo público nas eleições de 2024. Porém, eles acabaram virando cabos eleitorais. Alguns com sucesso, outros com fracasso.
Aliados com vitória
Schroeder
Jair Bridaroli (PL) foi eleito prefeito de Schroeder com 34,03% dos votos pela coligação “Juntos por Schroeder”, da qual o MDB de Felipe Voigt, prefeito do município preso, fazia parte.
Canoinhas
Em Canoinhas, município do vice-prefeito preso, Renato Jardel Gurtinski (PL), conhecido como ‘Pike’, Juliana Maciel (PL) foi eleita com 52,7% dos votos válidos, na mesma legenda de Pike.
Capivari de Baixo
Vicente Corrêa Costa (PL) foi preso durante seu mandato como prefeito de Capivari de Baixo, mas seu partido conseguiu se reeleger. Claudir Bitencourt (PL) venceu em 2024 com 35,1% dos votos válidos da cidade, contra 34,19% do segundo colocado, em uma diferença de 130 votos.

Propinas eram a moeda de troca em contratos investigados na Mensageiro – Foto: Imagem gerada por IA/ND
Tubarão
Cidade onde os dois líderes do Poder Executivo foram presos reprovou o apoioado pelo prefeito, mas elegeu o aliado do vice, que também parou na cadeia.
Carlos Stupp (PSDB), segundo colocado, concorreu pela coligação “Para Tubarão Voltar a Sorrir”, que incluía o PP, partido do ex-prefeito preso. Ele obteve apenas 16,54% dos votos válidos. O eleito, Soratto (PL), integrou a coligação “Um Novo Tempo”, da qual fazia parte o partido de Caio Tokarski (União Brasil), ex-vice-prefeito preso.
Aliados com derrota
Em quatro cidades, os partidos aos quais os investigados eram filiados perderam as eleições para prefeito.
Itapoá
Tiago de Oliveira (PL) foi derrotado em Itapoá, obtendo 41,17% dos votos contra 52,3% do candidato eleito, Jefinho Garcia (MDB).
Bela Vista do Toldo
A cidade elegeu Carlinhos Schiessl (MDB) com 41,31% dos votos válidos, enquanto Rosiani (Podemos), do partido do ex-prefeito preso, obteve 29,38% dos votos.
Corupá
A cidade do ex-prefeito preso Luiz Carlos Tamanini (MDB), o candidato da sigla, Alceu Moretti (MDB), alcançou 33,55% dos votos válidos, contra os 42,81% obtidos pelo eleito, Nininho Eipper (Novo).
Ibirama
A cidade do ex-prefeito preso Adriano Poffo (MDB) teve a derrota de seu aliado Sergio Possamai (MDB), com 33,67% dos votos, para Duílio (PSD), candidato eleito que conquistou 63,29%.
Mensageiro atinge cabeças de chapa
Quatro cidades nas quais os partidos envolvidos no escândalo de corrupção optaram por participar de coligações sem lançar um candidato próprio como cabeça de chapa tiveram resultados negativos.
Em Pescaria Brava, o MDB, de Deyvisonn Souza, integrou a coligação “Todos Por Pescaria Brava” junto ao PL, do candidato Ita do Preto. Ita obteve 37,85% dos votos, enquanto Henrique da Saúde (PP) foi eleito com 57,74%.
Já Massaranduba, que teve Armindo Sesar Tassi (MDB) como ex-prefeito, registrou 36,45% dos votos válidos para o candidato da coligação “Massaranduba: experiência que transforma!”, Odenir Deretti (PP). O candidato eleito foi Moacir Kasmirski (União Brasil), com 63,55%.

17 prefeitos foram presos na Mensageiro – Foto: Imagem gerada por IA/ND
O Partido Progressistas perdeu parte de sua capacidade eleitoral com as investigações realizadas contra o ex-prefeito de Guaramirim, Luis Antonio Chiodini (PP). Durante as eleições de 2024, o candidato da coligação “Guaramirim Para Crescer”, Osvaldo Devigili (União Brasil), ficou na terceira colocação, com 16,21% dos votos válidos. O eleito foi Adriano Zimmermann (PL), com 50,99% dos votos válidos.
Lages presenciou uma das maiores mudanças eleitorais, possivelmente relacionadas à Operação Mensageiro. A cidade, que teve o ex-prefeito Antônio Ceron (PSD) preso, concedeu apenas 17,78% dos votos válidos ao candidato Lio Marin (União Brasil), da coligação “Para Uma Nova Lages, Diga Sim”, da qual o PSD fazia parte. A prefeita eleita, Carmen Zanotto (Cidadania), obteve 77,16% dos votos válidos.
Em Papanduva e Balneário Barra do Sul, o partido Progressistas, dos ex-prefeitos Luiz Henrique Saliba (PP) e Antônio Rodrigues (PP), respectivamente, não integrou nenhuma coligação de candidatos a prefeito.
O Patriota de Major Vieira, do ex-prefeito Adilson Lisczkovski, não participou de nenhuma coligação dos candidatos a prefeito, assim como o Partido Social Democrata em Três Barras, de Luiz Divonsir Shimoguri (PSD).
População reprovou mandatos de investigados na Operação Mensageiro
O resultado das eleições para prefeito de 2024, após a Operação Mensageiro foi o seguinte:
- 5 candidaturas com partidos envolvidos na Operação Mensageiro tiveram êxito;
- 9 candidaturas foram derrotadas;
- 4 políticos nem sequer participaram diretamente do pleito.
Embora a investigação tenha redesenhado o cenário, segundo o cientista político Eduardo Guerini, o esforço feito pelos partidos na adoção de uma estratégia que priorizou a polarização político em detrimento ao combate à corrupção limitou maiores mudanças que poderiam ser ocasionadas pela Operação Mensageiro.
“Prefeitos e vereadores eleitos estiveram vinculados à estratégia da polarização e, marginalmente, ao combate à corrupção, com pouca influência no processo decisório do eleitor”, afirmou.

Dezenas de ações penais foram ingressadas pelo MPSC – Foto: Imagem gerada por IA/ND
O especialista ainda completa, dizendo que operações importantes de grande porte, como a Mensageiro, podem mostrar como o poder político e social de partidos e candidatos consegue direcionar os eleitores, até mesmo em casos de corrupção.
Daniel Moraes Pinheiro, pesquisador da cultura política, ratifica o pensamento de Guerini. Ele ainda destaca as candidaturas que não se elegeram, mas também alerta para as eleitas.
“É positivo quando os investigados não são eleitos, pois isso demonstra a consciência da população. Mas é preciso olhar com cuidado se as candidaturas vencedoras têm o compromisso com o combate à corrupção”, complementa.
“É preciso que a população entenda que um cargo público está cercado de grandes responsabilidades e que atos de corrupção não podem ser considerados banais”.
Pinheiro afirma que as operações de combate à corrupção são fundamentais para a manutenção de um regime funcional e não devem ser vistas como um fato político. “É uma ação da Justiça sobre a gestão pública e a atuação de gestores públicos”.
Guerini destaca que a Operação Mensageiro foi importante para expor à população que a corrupção pode ocorrer em qualquer lugar.
“Operações como essa desmascaram a ideia de que em Santa Catarina não existe corrupção, como muitas vezes se reproduz na opinião pública. A corrupção não ocorre só em Brasília; ela ocorre em todos os lugares”, finaliza.