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O policial militar que atirou contra o cliente de uma boate de Florianópolis — que morreu em seguida — estaria trabalhando como segurança particular do local no dia do crime, conforme apuração da reportagem do Grupo ND. No entanto, o “bico” é proibido pela PMSC (Polícia Militar de Santa Catarina).
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Policial militar que disparou contra empresário, em boate de Florianópolis, passa por audiência de custódia nesta quarta-feira (9) – Foto: Redes Sociais/ Reprodução/ ND
O caso aconteceu na terça-feira (9) na boate Sex Night, localizada na Avenida Mauro Ramos, no Centro da Capital.
O crime aconteceu em uma confusão generalizada na escadaria do local, por volta das 6h.
O vídeo da gravação mostra quatro amigos indo até o balcão para contestar os valores que estão na comanda, que era de R$ 1801,80. Em meio à discussão, um segurança chega ao lado e tenta conversar com eles.
Em um momento, um deles fala algo ao segurança, que responde com uma cotovelada. A partir desse momento, inicia-se uma briga generalizada.
Um dos amigos que estava sentado, identificado como Thiago Kich de Melo, levanta-se e parte para cima do segurança. Um policial militar, identificado como Rafael Azevedo, que estava à paisana chega junto com outros homens para auxiliar o segurança na briga.
No meio da confusão, Thiago perde a camisa. Enquanto desferia socos em um homem, o policial puxa Thiago e, em seguida, saca uma arma de fogo e dispara em direção à vítima, que cai desorientada no chão.
Policial militar que atirou em cliente não poderia estar trabalhando como segurança na boate de Florianópolis
Segundo informações da PMSC (Polícia Militar de Santa Catarina), o próprio policial comunicou ao seu superior sobre o caso e se apresentou de forma espontânea na delegacia da Polícia Civil para prestar depoimento.
Ele foi preso e está à disposição da Justiça no 4° Batalhão da Polícia Militar. A audiência de custódia acontecerá nesta quarta-feira (9).
A Corregedoria-Geral da PMSC instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias que envolveram a presença do agente da PM na boate e identificar a possível incidência de crimes semelhantes.
Segundo informou a Polícia Civil, após interrogatório do PM à paisana, ele estaria dentro da boate de Florianópolis fazendo segurança privada armada, com uma arma de fogo de sua propriedade.
A prática é ilegal, visto que PMs são servidores públicos concursados e o Estatuto dos Policiais Militares de SC proíbe agentes da ativa a trabalharem em organizações e empresas privadas.
Tanto o policial quanto o segurança foram presos em flagrante por homicídio. O PM foi levado em custódia ao 4º Batalhão de Polícia Militar, enquanto o segurança foi conduzido ao presídio da capital.
O Grupo ND procurou a defesa do policial, que respondeu sobre o caso:
“O caso está sendo apurado pelos órgãos competentes, seguindo os trâmites legais. Ao tempo e modo, os fatos serão esclarecidos”, disse o advogado Victor Malheiros.
A reportagem entrou em contato para pedir sobre a suposta infração que o militar teria cometido ao estar trabalhando como segurança na boate de Florianópolis. Sem retorno até a publicação desta matéria, o espaço segue aberto.
O que diz a lei da PMSC sobre ‘bicos’ de policiais
A lei da PMSC, atualizada em outubro de 2023, afirma que os policiais são proibidos de ter empregos complementares nestes segmentos:
- Atividade de comércio, administração ou gerência de sociedade empresarial
- Atividade de gestão profissional de bens pertencentes ao patrimônio de terceiros
- Acumulação de cargos públicos
- Exercício da advocacia
- Fazer parte de firmas comerciais e empresas industriais de qualquer natureza ou nelas exercer função ou emprego remunerados
- Exercício da atividade de segurança privada, em nome próprio, de terceiro ou por meio de pessoa jurídica, com ou sem vínculo formal, para o exercício isolado ou em conjunto de atividades nas áreas de vigilância e segurança patrimonial, transporte de valores, segurança pessoal, segurança eletrônica e monitoramento de alarmes e outras atividades assemelhadas.
VÍDEO: Cliente foi pisoteado após ser baleado por policial militar
Thiago fica caído na porta da boate de Florianópolis, e então é sequencialmente pisoteado após ser baleado. O autor dos golpes é o próprio segurança. Os demais envolvidos na briga se afastam após ouvir o tiro e perceberem as marcas de sangue no chão. O policial fica encostado em uma parede, vendo a ação.
Após pisotear Thiago, o segurança ainda tenta agredir um homem que estava sentado em uma cadeira, mas é parado por um outro homem que entrou na cena após o tiro.
Mesmo pisoteado após ser baleado, Thiago não foi socorrido por ninguém da boate e já estava sem vida quando os paramédicos chegaram.
Vídeo mostra a confusão que terminou em homem pisoteado após ser baleado – Vídeo: Reprodução/ND