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Análises revelaram que a vitrificação do tecido cerebral ocorreu devido a um processo único de exposição rápida a temperaturas extremamente altas, seguida de um resfriamento igualmente veloz. Esqueleto de uma vítima da erupção do Vesúvio, ainda deitado na cama no Collegium Augustalium, em Herculano.
Pier Paolo Petrone
Uma equipe internacional de cientistas anunciou nesta semana uma descoberta surpreendente que lançou uma nova luz sobre os eventos catastróficos ocorridos durante a erupção do Vesúvio, em 79 d.C.
Fragmentos de vidro orgânico foram encontrados dentro do crânio de uma vítima da catástrofe, no que seria o primeiro caso conhecido de vitrificação do tecido cerebral humano.
O achado foi feito no Collegium Augustalium, um importante edifício da antiga cidade romana, onde o corpo de um jovem adulto do sexo masculino foi descoberto em sua cama, preservado nas cinzas vulcânicas por quase dois milênios.
As análises revelaram que a vitrificação do tecido cerebral ocorreu devido a um processo único de exposição rápida a temperaturas extremamente altas, seguida de um resfriamento igualmente veloz.
“Nossos estudos indicam que o cérebro foi exposto a temperaturas de pelo menos 510°C, antes de resfriar rapidamente, permitindo a formação deste vidro orgânico único”, explica Guido Giordano, professor do Departamento de Ciências da Universidade Roma Tre, na Itália.
Pedaço de vidro orgânico encontrado dentro do crânio de uma vítima da erupção do Vesúvio em Herculano.
Pier Paolo Petrone
Extremamente raro na natureza e praticamente inédito em material orgânico, o processo de vitrificação requer condições muito específicas.
Por isso, no caso do jovem encontrado em Herculano, os pesquisadores acreditam que a erupção tenha produzido uma onda de calor intensa o suficiente para carbonizar a madeira e os móveis ao redor, atingindo temperaturas que permitiram a conversão do tecido cerebral em vidro ANTES que a área fosse rapidamente soterrada pelas cinzas.
Amostra do vidro orgânico sob luz direta, parte de uma figura publicada no estudo.
Guido Giordano et al./Scientific Reports
O fenômeno da vitrificação de tecidos biológicos já havia sido observado em experimentos laboratoriais, mas nunca antes havia sido identificado em restos humanos arqueológicos.
“É provável que as condições particulares ocorridas no início da erupção no local da descoberta, bem como a proteção oferecida pelos ossos do crânio e da coluna vertebral do indivíduo, tenham criado as condições para que o cérebro e a medula óssea sobrevivessem ao impacto térmico, permitindo então a formação deste vidro orgânico único”, acrescenta o professor Pier Paolo Petrone, da Universidade de Nápoles Federico II.
Infográfico mostra local da erupção do Monte Vesúvio, em Pompeia, no século I
Arte g1
Por essa razão, os cientistas agora pretendem realizar mais análises químicas nos fragmentos vítreos para determinar se ainda há vestígios de proteínas e lipídios preservados neles, o que poderia fornecer informações valiosas sobre a estrutura cerebral da vítima e as condições ambientais da erupção.
O fenômeno foi uma das erupções mais devastadoras da história da humanidade e resultou na destruição das cidades romanas de Pompeia, Herculano e outras localidades vizinhas.
As temperaturas extremas e a rápida deposição das cinzas vulcânicas preservaram muitos corpos e outras estruturas, fornecendo aos arqueólogos um registro excepcional da vida na Roma Antiga e dos impactos dessa tragédia.
Vista das ruínas de Herculano com o Monte Vesúvio ao fundo, local da erupção que soterrou a cidade no ano 79 d.C.
Pier Paolo Petrone
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