‘Ônibus fantasma’: um ano após reportagem, saber o horário de linha do transporte coletivo ainda é desafio para usuários em Bauru


Em março de 2024, o g1 mostrou a saga dos passageiros que utilizam a linha de ônibus Falcão/ITE para descobrir os horários que transporte passa nos pontos. Eles criaram um grupo no Whats App para ajudar nessa tarefa que tinha pouco mais de 300 integrantes na época e hoje passa de 400. Ônibus da linha Falcão/ITE percorre as principais avenidas de Bauru, como a Duque de Caxias
Pedro Góes/ Arquivo pessoal
Há 1 ano, o grupo do Whats App “Falcão ITE Já Passou Aí?” tinha seus pouco mais de 300 membros. Criado na tentativa de solucionar os problemas da linha de ônibus Falcão/ITE, em Bauru, que tem poucos horários e bastante confusos, o grupo cresceu na mesma medida em que aumentaram as reclamações sobre o transporte, que passa pelas principais avenidas da cidade.
O g1 mostrou a dificuldade desses passageiros em uma reportagem publicada em março de 2024. Atualmente, mais de 400 pessoas integram o grupo no aplicativo.
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O g1 voltou a conversar com os passageiros da linha, que ficou conhecida como “ônibus fantasma”. Eles relataram os mesmos problemas da época da reportagem.
Pedro Góes, criador do grupo e que inclusive foi entrevistado em 2024, disse que os ônibus da linha Falcão/ITE continuam cheios, e que o jeito foi se acostumar e se adaptar à essa situação.
Pedro conta que o maior problema são os constantes atrasos que dificultam os quase 2 mil usuários diários do transporte saberem onde ônibus está passando.
“O problema é que às vezes não aparece no mapa. Não dá para saber se já passou, até parei de usar o aplicativo da prefeitura”, afirma o estudante.
Outro fator que já é um velho conhecido não só dele, mas de muitos passageiros, é a falta de horários intercalados para conseguirem pegar o ônibus à noite.
“Na parte da tarde pra noite percebo que tem um grande problema, que é o horário que as pessoas mais mandam mensagens no grupo perguntando se já passou ou não”, conta.
Grupo foi criado no Whats App para ajudar os usuários da linha de ônibus em Bauru
Whats App/Reprodução
Período noturno
A estudante Ana Luiza Moura entende bem esse problema. Ela entrou no grupo depois da reportagem do g1 sobre a linha publicada em março do ano passado e depende do transporte no período da noite para voltar da Unesp, onde estuda, para casa, que fica próxima à Avenida Duque de Caxias.
“Do ano passado pra cá a linha continuou muito ruim. De noite, voltando da faculdade, o ônibus passa às 21h30 e depois às 23h10”, explica Ana.
As aulas costumam acabar às 22h, então a estudante precisa esperar mais de uma hora pelo transporte. Em casa, Ana Luiza só chega por volta da meia noite. Com isso, relata temer pela sua segurança ao ficar à mercê dos horários que a Falcão trabalha.
“É muito perigoso ficar andando meia noite na rua, principalmente para mulher. O motorista das 21h30 é o mesmo das 23h10, por isso tem essa perda de tempo, porque então tem só um ônibus nesse horário”, desabafa.
Ainda segundo a jovem, a rotina fica muito prejudicada com essa logística, porque ela prefere perder um pouco da sua aula para pegar o ônibus das 21h30 e chegar em casa um pouco mais cedo, de forma mais segura. Ou fazer como muitos amigos, que pegam um ônibus até o centro e, de lá, pegam outro até o trajeto final.
“Principalmente para nós de escolas públicas, que lutamos muito por uma vaga, que estamos indo atrás, que trabalhamos. O mínimo que a gente deveria ter é o transporte. A gente tem um único ônibus pra muita gente. É o único ônibus que abrange nossa região”.
A logística da linha é realmente difícil de entender. Ana diz que, enquanto as linhas Jardim Ouro Verde e Dutra passam na Unesp com muitas opções de horário, a da Falcão demora quase 2 horas.
Assim, para quem faz parte do grupo “Falcão ITE Já Passou Aí?”, a sensação de impotência ao esperar o ônibus é amenizada pela colaboração mútua dos membros. A própria estudante explica que o grupo é de grande ajuda.
“É sempre bom perguntar se o ônibus já passou, e como eu pego em um dos primeiros pontos, eu consigo ajudar passando a informação. Porque se a gente não se ajudar, a gente fica perdido”, relata.
O grupo
Integrantes do grupo trocam mensagens para ajudar os passageiros da linha que tem poucos horários e sofre atrasos em Bauru
Whats App/Reprodução
Quem também compartilha dos mesmos sentimentos e ideias é a Maria Vitória Bertotti, que confirma a utilidade do grupo. A também estudante da Unesp, Maria Vitória Bertotti, está no grupo de Whats App desde o início e confirma a utilidade dele.
A jovem usa a linha todos os dias desde 2022, seja para ir e voltar da faculdade ou para resolver outras pendências diárias. Diariamente, sobe no primeiro ponto e desce no último.
“Ele costuma encher bastante, eu chego tarde na faculdade e os ônibus são muito precários, fazem muito barulho. Isso pode incomodar inclusive quem tem alguma sensibilidade”, descreve.
Ela ainda acrescenta que o grupo, hoje com mais de 400 membros, ganhou alcance com o “boca a boca” e todos colaboram. “Todo mundo é bem solícito, você pergunta e já respondem”.
Para Maria, a única salvação da linha são os motoristas, que de acordo com ela, prestam um ótimo serviço no atendimento.
“Eles são muitos queridos, muito gentis com os estudantes, trabalhadores e com os idosos que vão para o Hospital Estadual. São bons funcionários, para compensar o caos que a linha é”, explica.
Integrantes do grupo trocam mensagens para saber onde o ônibus está passando em Bauru
Whats App/ Reprodução
A linha
A linha que faz parte da Transurb, Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Bauru, atravessa a cidade.
Parte do ponto Campus da Unesp, que fica na quadra 8 da Avenida Eng. Luiz Edmundo C. Coube, no Jardim Niceia, e percorre as principais avenidas da cidade a Nações Unidas, Rodrigues Alves e Duque de Caxias e tem como parada final a quadra 10 da Rua Campos Salles, na Vila Industrial.
Ao todo, são 47 paradas. Cerca de 1.988 passageiros utilizam a linha diariamente, enfrentando todos os percalços mencionados.
O que diz a Emdurb?
A Emdurb, que fiscaliza o transporte coletivo na cidade, disse ao g1, em nota, que mantém acompanhamento constante da linha mencionada, assim como de todas as outras. Do ano passado para cá, não constataram reclamações de munícipes sobre lotação frequente nessa linha. No entanto, disseram que realizarão uma nova análise, revisando relatórios e intensificando a fiscalização.
A Emdurb pediu aos usuários que, caso identifiquem superlotação, registrem reclamações junto à Emdurb para que as devidas providências possam ser tomadas.
Especificamente sobre a linha mencionada, informaram ainda que não houve aumento na demanda de passageiros no período citado. Em relação a atrasos, a média mensal de reclamações é de uma por mês, sendo que, na maioria das vezes, ocorrem em dias com acidentes, chuvas ou outros imprevistos.
Disseram ainda que a frota tem idade média de dois anos e meio, e não houve alteração na tabela horária nesse período. Desde a publicação da reportagem em março de 2024, foi incluído um veículo extra no horário das 18h25 para reduzir a lotação nos horários de pico.
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