
Edneia Silva, de 31 anos, estava no banco de uma praça em Santos, no litoral paulista, quando o tiro acertou a parte de trás da sua cabeça. Caso foi em 2024 durante a Operação Verão. Edneia deixou seis filhos, sendo a última gestação há pouco mais de 1 ano. Ela morreu em Santos após ser atingida por uma bala perdida
Arquivo pessoal
O Ministério Público de São Paulo desconsiderou o depoimento de uma testemunha-chave e concluiu que o policial militar que baleou e matou uma mulher de 31 anos, mãe de seis filhos, durante uma perseguição a suspeitos, não agiu com dolo (quando há intenção de matar).
O processo foi encaminhado à Justiça Militar Estadual, portanto o policial não será julgado por um júri popular na Justiça comum.
O episódio aconteceu em Santos, no litoral paulista, em março do ano passado, durante a Operação Verão, quando o policiamento é reforçado na alta temporada. A ação foi marcada por críticas às condutas policiais e denúncias de entidades de direitos humanos. Em quatro meses, 56 pessoas morreram em supostos confrontos com a polícia.
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Edneia Fernandes Silva estava sentada no banco de uma praça quando foi atingida na parte de trás da cabeça por um disparo. Ela chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
Naquele dia, três policiais em motocicletas perseguiam dois homens em uma moto, quando, segundo a versão da PM, um dos suspeitos atirou cinco vezes contra a equipe. Para revidar, um cabo efetuou um disparo.
O laudo balístico confirmou que o projétil que atingiu Edneia saiu da arma do PM — uma pistola Glock de calibre .40.
Uma testemunha protegida, ouvida diretamente no MP, confirmou parte da narrativa dos policiais. Segundo ela, os policiais estavam, de fato, perseguindo uma moto.
Contudo, ela contou que não houve troca de tiros. “Apenas um tiro teria sido efetuado e seu autor seria um dos policiais”.
Depois, os policiais reconheceram, em depoimento na delegacia, que consultaram o sistema e não havia queixa de crime envolvendo a moto.
Na sua manifestação, o promotor de Justiça do Tribunal do Júri Fabio Perez Fernandez questionou o depoimento da testemunha e disse que poderia ser resultado da “falsa percepção da realidade”.
O depoimento desta, porém, pode decorrer de falsa percepção da realidade, pela rapidez do acontecimento e pelo grande abalo emocional de ver uma pessoa de seu baleada na cabeça. Outras viaturas chegaram. Socorro médico também. Tragédia completa, difícil de ser descrita.
Segundo o promotor, o cabo atirou apenas uma vez para se defender, portanto “não queria matar ninguém nem mesmo o criminoso que fugiu (alvo visado), eis que, como dito, embora pudesse prosseguir nos disparos, limitou-se a efetuar um, para se defender e, talvez, lesionar seu algoz”.
Coronel da PM afirma que bala perdida que matou mãe de seis foi disparada por PM
Versões contraditórias
Mãe de seis filhos, Edneia Fernandes Silva foi morta por tiro de PM em uma praça de Santos durante Operação Verão
Reprodução
Momentos antes de ser atingida por uma bala perdida, Edneia estava sentada em um banco da Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro.
Segundo uma prima da vítima, não houve troca de tiros entre os PMs e os suspeitos. “Não houve operação, só três motos da Rocam que passaram. Um único tiro vindo do policial foi o que atingiu ela”, disse.
De acordo com o boletim de ocorrência, testemunhas socorreram a vítima e a levaram à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Noroeste. Em seguida, ela foi transferida à Santa Casa de Santos, mas morreu no dia seguinte.
Na versão dada pelos PMs, eles contaram que faziam patrulhamento em motos pela Avenida Hugo Maia, quando viram uma motocicleta em alta velocidade entrando na avenida. Eles pediram para o motociclista parar, mas o piloto não obedeceu, fugiu e entrou na praça.
Eles disseram, então, que ficaram parados no cruzamento e, neste momento, o motociclista e o garupa teriam atirado aproximadamente cinco vezes em direção a eles.
Um dos PMs reagiu e atirou de volta. Em seguida, os homens abandonaram a moto e correram em direção ao beco da praça, disparando mais cinco vezes. Os policiais fizeram o retorno e acessaram a praça pelo lado oposto.
A moto dos suspeitos foi encontrada sem a chave na ignição. Ao fazerem uma pesquisa no sistema, os PMs constataram que não havia queixas de crimes envolvendo o veículo. No baú da moto, a PM encontrou uma capa de chuva, um boné e um carregador de celular.
Os policiais disseram que foi nesse momento em que foram informados por testemunhas que uma pessoa tinha sido baleada e socorrida.
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