Restauração faz ‘harmonização facial’ em imagem de santa que é patrimônio nacional e causa revolta em fiéis; veja antes e depois


Iphan nega ter autorizado a restauração. Fiéis dizem que a imagem perdeu traços que remetem a dor e sofrimento. Alteração de imagem de Nossa Senhora das Dores gera indignação em Pirenópolis
Uma restauração feita na imagem de Nossa Senhora das Dores, em Pirenópolis, no
Entorno do Distrito Federal, está causando revolta nos fiéis que viram diferenças em comparação com a pintura anterior da imagem. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), disse que não autorizou a restauração e enviou um ofício à Diocese de Anápolis, que responde pela paróquia onde está a santa em busca de explicações.
A imagem é do século XVIII e fica exposta na igreja Nossa Senhora do Rosário, no centro histórico de Pirenópolis. Conhecida pela expressão carregada de tristeza e com detalhes de lágrimas que escorrem pelo seu rosto, e sobrancelhas curvadas de quem vê o corpo do próprio filho morto depois de ser crucificado, a santa agora ganhou tons de maquiagem. Os fiéis não gostaram da mudança.
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“Ela está sem a lágrima, sem a feição, está com cílios. Praticamente maquiada com blush. É a mãe de Jesus, nossa mãe e quando chega essa época a gente quer ir adorar, participar. Pede para ela porque a feição dessa imagem e a semelhança da gente”, disse a devota Helena Cristina de Pina.
Quando as fotos do antes e depois da restauração são colocadas lado a lado é possível notar algumas mudanças como a tonalidade da pintura, a boca que parece estar com batom, as bochechas mais rosadas e cílios bem delineados. As lágrimas quase não são aparecemna imagem atual. Diferente da expressão anterior. Veja abaixo:
Imagem de Nossa Senhora das Dores
Fábio Lima / O Popular
A mudança aconteceu também nas mãos da santa que antes tinha tons mais escuros, e agora estão mais brancas e sem sombreado – compare abaixo.
“Nós observamos que mudou a cor da imagem. A técnica de pintura é diferente porque essas imagens antigas são pintadas com policromia, uma técnica que usa várias cores para dar tonalidades da pele, feição. E a pintura que tem lá é simples com tinta de uma cor só, isso mudou completamente os traços e características que ela tinha”, explicou o devoto e jornalista Ronaldo Félix.
Mudanças na imagem de Nossa Senhora das Dores
Reprodução / TV Anhanguera
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O Iphan mandou um ofício para a Diocese de Anápolis, responsável pelas igrejas católicas de Pirenópolis. O documento relata que Virgínia Conrrade Lopes da Silva, restauradora do instituto, esteve na igreja em março de 2025 e não foi informada sobre a necessidade de reformar a imagem da santa.
O Iphan solicitou o esclarecimento sobre a pintura feita na imagem sem autorização do instituto e sem o acompanhamento de um técnico restaurador habilitado. O prazo para esse esclarecimento é de 15 dias.
“Não foi uma obra de restauração pelo dano que causou à Nossa Senhora das Dores”, disse Margareth de Lourdes Souza, chefe substituta do escritório do Iphan em Pirenópolis.
Margareth também disse que essa restauração não foi autorizada pelo Iphan. “De maneira alguma”, frisou.
No próximo dia 18 quando a igreja católica celebra a Sexta-feira Santa, ou Sexta-feira da Paixão de Cristo, a imagem de Nossa Senhora das Dores sai às ruas para uma procissão.
O g1 tentou contato com o pároco de Pirenópolis, mas não teve retorno até a última atualização desta matéria. A reportagem entrou em contato também com a Diocese de Anápolis, mas não consegui contato com o responsável.
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Imagem de Nossa Senhora das Dores
Fábio Lima / O Popular
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